X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

INFLUENCIAS AMBIENTAIS NA OCUPAÇAO DE PACA (CUNICULUS PACA) EM UNIDADES DE CONSERVAÇAO NA SERRA DA MANTIQUEIRA

Resumo

A relação entre o ambiente e a ocorrência das espécies é uma das questões centrais para o planejamento de ações de conservação. Especificamente as espécies frugívoras são importantes componentes em ecossistemas tropicais, atuando na dinâmica populacional das plantas, além de serem importantes presas para grandes animais carnívoros. Uma destas espécies é paca (Cuniculus paca), um roedor de grande porte que habita preferencialmente ambientes florestais da região neotropical. Sendo assim, nosso objetivo foi analisar quais variáveis ambientais melhor explicam a ocupação da paca em ambientes de altitude na Mata Atlântica. Conduzimos a coleta de dados em duas unidades de conservação na Serra da Mantiqueira, o Parque Nacional do Itatiaia (MG/RJ) e a RPPN Alto-Montana (MG). Distribuímos 32 pontos amostrais com armadilhas fotográficas ao longo de diferentes áreas entre novembro de 2013 e outubro de 2015, e coletamos quatro variáveis ambientais: cobertura florestal; ocupação condicional de puma (Puma concolor); fases lunares e densidade de araucária e palmito-juçara. Nós utilizamos modelos de ocupação para avaliar quais variáveis influenciaram a probabilidade de ocupação (Ψ) e detecção de paca (p), onde o peso acumulativo de AICc (w+) de cada uma das variáveis foi avaliado. A partir da construção de modelos single-season, nossos resultados mostraram que a Ψ da paca não foi influenciada por nenhuma variável (w+ < 0.5). Entretanto, sua detecção já se mostrou influenciada (w+ > 0.5) positivamente pela cobertura florestal e pelo Ψ condicional de puma, porém negativamente pelas fases lunares de maior luminosidade. Pelo fato da paca ser um animal de hábito noturno, com baixa probabilidade de captura, modelos de ocupação se mostram mais adequados por levar em conta as falsas ausências desta espécie durante a amostragem, através da p, a qual foi influenciada principalmente pela cobertura florestal (w+ = 0.99). Áreas com maior cobertura florestal tendem a apresentar maior abundância de árvores frutíferas, fonte dos principais recursos alimentares consumidos pela espécie. Já a relação positiva entre a ocupação de puma e a detecção de paca, pode ser compreendida aos olhos do predador. Em algumas regiões antropizadas da Mata Atlântica, a paca é uma presa fundamental para o estabelecimento do puma e mesmo em áreas mais conservadas, a paca compõe mais da metade da dieta desta espécie. Por outro lado, contrapondo esta relação presa-predador, nas fases lunares de maior luminosidade a paca reduziu sua atividade de forrageio, evitando trilhas e lugares abertos. Esse comportamento procura diminuir o risco de predação, pois com o aumento da luz lunar há uma melhora na acuidade visual, principalmente de felinos. Os resultados obtidos corroboram com a forte relação de ambientes florestais para a permanência das pacas, bem como sua influência no estabelecimento de predadores de topo de cadeia ameaçados de extinção. Assim a manutenção das populações de paca na Serra da Mantiqueira se mostra fundamental na conservação da biodiversidade da região.

Palavras-chave

Cobertura florestal; detecção; fases lunares; Mata Atlântica, presa-predador.

Financiamento

Área

Ecologia

Autores

Mateus Melo-Dias, Rayssa Faria Pedroso, Clarissa Alves Rosa, Marcelo Passamani