X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

O MICO-LEAO-PRETO (LEONTOPITHECUS CHRYSOPYGUS) E OS BESOUROS COPROFAGOS: UM PROCESSO DIPLORICO NA MATA ATLANTICA

Resumo

Os primatas representam entre 25 e 40% da biomassa frugívora de florestas tropicais e excretam as sementes viáveis para a germinação, sendo considerados importantes dispersores de sementes. As fezes dos primatas atraem besouros coprófagos, os quais enterram as fezes que podem conter sementes, alojando elas em um ambiente que pode ser mais propício à germinação e mais protegido dos predadores. Por outro lado, um enterramento profundo pode impedir a emergência das plântulas. Esse processo de dispersão em duas etapas é chamado de diplocoria e é bastante comum nos trópicos. Enquanto os primatas de pequeno porte podem apresentar maior resiliência em ambientes alterados, não se sabe o quanto a dispersão secundária de sementes por besouros coprófagos é frequente nas fezes destes primatas na Mata Atlântica. O objetivo deste estudo foi de determinar a probabilidade de dispersão secundária das sementes dispersas primariamente pelo mico-leão-preto, sua profundidade de enterramento pelos besouros e os fatores que influenciam tal processo. Para tal, acompanhamos um grupo de mico-leão-preto no Parque Estadual Morro do Diabo, município de Teodoro Sampaio, SP. O estudo foi feito durante 6 meses, sendo 4 dias de coleta por mês. O grupo foi observado desde sua saída do dormitório pela manhã até sua volta ao dormitório à noite, então anotamos sua alimentação, local de defecação via GPS e as características das fezes (horário, substrato de deposição, quantidade de fezes e número de sementes).  Analisamos a ocorrência de dispersão secundária pelos besouros através de um experimento semi-controlado, onde um fio de nylon marcado com ráfia colorida foi amarrado à semente para poder acompanhar seu movimento. Quarenta e oito horas depois, verificamos os experimentos e determinamos se as sementes foram enterradas e sua profundidade de enterramento. Das 136 fezes coletadas, 627 sementes foram marcadas. Em um período de 48 horas, 28,5% das sementes marcadas durante a estação chuvosa foram deslocadas a uma distância horizontal de 8,2 cm ± 7,7 cm (média ± desvio padrão) e 9,6% foram enterradas a uma profundidade média de 2,7 cm ± 2 cm. Já na estação seca, 4,1% foram movidas horizontalmente a uma distância média de 5,3 cm ± 2,2 cm e 1,3% foram enterradas a uma profundidade média de 1,9 cm ± 1,4 cm. Constatamos que a probabilidade de enterramento é relativamente baixa e inferior ao observado em fezes de primatas de maior porte, como os Atelidae. Essa diferença esperada pode ser explicada pela quantidade de fezes, que tende a ser maior quando provindas de primatas maiores, fazendo com que mais besouros sejam atraídos. No entanto, a probabilidade de enterramento das sementes dispersas pelos micos-leões-pretos também é inferior à observada em fezes de outros Callitrichidae na Amazônia peruana. Este resultado pode ser explicado pelos distintos locais de estudo com comunidades de besouros também distintas. Mostramos que, apesar de serem pequenas, as fezes de micos-leões-pretos atraem uma comunidade de besouros capazes de movimentar horizontalmente e verticalmente as sementes dispersas. Este processo diplocórico pode ter um papel importante na regeneração das florestas.

Palavras-chave

Dispersão secundária, Interação planta-animal, Primatas, Sementes

Financiamento

FAPESP, CNPq

Área

Ecologia

Autores

Giovana Cristina Magro-de-Souza, Anne Sophie Almeida Silva, Laurence Culot