X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

MAMIFEROS DE MEDIO E GRANDE PORTE EM UMA AREA DE TRANSIÇAO CERRADO-CAATINGA NO ESTADO DA BAHIA

Resumo

A Caatinga é o único bioma distribuído exclusivamente no Brasil, mas também um de seus biomas menos conhecidos, e vem historicamente perdendo a sua biodiversidade, como consequência de atividades antrópicas, como a exploração de madeira para lenha, criação de animais, cultivos agrícolas e a caça, sendo esta normalmente direcionada a aves e mamíferos de maior porte. Diante disso, este estudo objetivou inventariar as espécies de mamíferos de médio e grande porte (>1 kg) em uma área de transição entre os biomas Caatinga e Cerrado, no município de Brotas de Macaúbas, Bahia. A área de estudo compreende terras privadas adjacentes entre si, totalizando aproximadamente 5 km², recobertas por vegetação nativa arbóreo-arbustiva; áreas em regeneração, onde predominam espécies ruderais; estradas em uso e abandonadas; e benfeitorias relacionadas a um complexo eólico situado dentro da área (e.g., aerogeradores, subestação de transmissão de energia etc.). Para tanto, em agosto de 2017 e abril de 2019, foram realizadas buscas ativas por evidências diretas e vestígios de mamíferos durante 12 dias, ao longo de trilhas pré-existentes na área de estudo. Em agosto de 2017, também foram distribuídas 20 armadilhas fotográficas, em pares, ao longo de 10 sítios amostrais. Duas armadilhas defeituosas, localizadas em sítios amostrais distintos, não gravaram vídeos. Dessa forma, 18 armadilhas funcionaram durante 15 dias, 24 horas por dia, resultando em um esforço amostral efetivo igual a 270 armadilhas-dia. Registros com intervalo ≥1 hora realizados em um mesmo sítio amostral foram considerados independentes, e espécies de menor porte que puderam ser identificadas fidedignamente também foram consideradas. Registros oportunísticos dentro e no entorno da área de estudo também foram incluídos. Ao todo, foram registradas 18 espécies: Cabassous sp., Callithrix penicillata, Cerdocyon thous, Conepatus semistriatus, Dasyprocta sp., Dasypus novemcinctus, Didelphis albiventris, Galea spixii, Leopardus pardalis, Leopardus tigrinus, Lycalopex vetulus, Mazama gouazoubira, Myrmecophaga tridactyla, Panthera onca, Puma concolor, Puma yagouaroundi, Sylvilagus brasiliensis e Tolypeutes tricinctus. Cerdocyon thous foi a espécies mais frequentemente registrada via armadilhamento fotográfico (n = 5; 20%), seguida por Didelphis albiventris e Tolypeutes tricinctus (n = 5; 17%). Dentre as espécies registradas, oito (44%) encontram-se atualmente ameaçadas de extinção: Leopardus pardalis, Leopardus tigrinus, Lycalopex vetulus, Myrmecophaga tridactyla, Panthera onca, Puma concolor, Puma yagouaroundi e Tolypeutes tricinctus. As espécies Cabassous sp., Dasypus novemcinctus e Mazama gouazoubira, embora não se encontrem ameaçadas de extinção, apresentam potencial cinegético na região, como tem sido relatado em entrevistas ainda em andamento, realizadas com moradores do entorno. Dessa forma, considerando-se espéicies ameaçadas e cinegéticas, a comunidade de mamíferos inventariada apresenta um total de, pelo menos, 11 espécies (61%) com populações potencialmente vulneráveis. Essa situação é especialmente preocupante para Panthera onca e Tolypeutes tricinctus. Essas espécies estão classificadas, respectivamente, como Criticamente Ameaçada e Em Perigo de extinção no estado da Bahia, sendo a caça uma de suas principais ameaças. Além disso, Panthera onca apresenta baixa adaptabilidade a hábitats antropizados, e Tolypeutes tricinctus ainda é uma espécie pouco conhecida pela ciência. Diante desses fatores, Panthera onca e Tolypeutes tricinctus constituem, portanto, possíveis espécies prioritárias para conservação na área estudada.

Palavras-chave

diversidade, riqueza, Panthera onca, Tolypeutes tricinctus, espécies ameaçadas.

Financiamento

ACNC/Phoenix Zoo, Azurit Engenharia, Statkraft

Área

Inventário de Espécies

Autores

Rodolfo Assis Magalhães, Flávio Henrique Guimarães Rodrigues