Dados do Trabalho
TÍTULO
O CANÍDEO QUE HABITO. REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANALISE DE AGENTES INFECCIOSOS DE CANÍDEOS SILVESTRES DE VIDA LIVRE E CATIVEIRO NO BRASIL
Resumo
Doenças infecciosas são reconhecidas como uma ameaça à sobrevivência de carnívoros mundialmente. Sob outra perspectiva, a circulação e transmissão de agentes infecciosos (AI) em animais silvestres é potencialmente devastadora para populações humanas pelos impactos na saúde pública e animal. AI responsáveis por declínio significativo populacional em canídeos silvestres em outros países foram detectados no Brasil. No entanto, a falta de informação sistematizada sobre a situação da saúde silvestre dificulta a compreensão da extensão do problema, bem como os esforços de conservação e controle de endemias. Nesse contexto, objetivamos fornecer luz ao conhecimento de AI nos canídeos silvestres brasileiros, por meio do levantamento dos AI infectando cada hospedeiro, padrões de susceptibilidade e espacialização das ocorrências no Brasil e dentro de unidades de conservação. Ainda, avaliamos a distribuição cronológica e espacial dos estudos, bem como seus diferentes métodos e categorias. Para tanto, conduzimos uma revisão bibliográfica sistematizada conforme orientações do PRISMA, através das palavras-chave das seis espécies de canídeos e das espécies de quatro grupos de AI: vírus, bactérias, protozoários e fungos. Incluímos apenas publicações originais entre 1982 e 2018. Dentre as 2.102 publicações resultantes em nossa busca, 120 preencheram nosso critério de inclusão. Estudos em cativeiro contribuíram significativamente no conhecimento de AI detectados (p<0,05), demonstrando a importância dessas instituições na pesquisa em animais silvestres. Extraímos as coordenadas de cada registro e, quando não disponíveis, contatamos os autores. Totalizamos os AI conhecidos e correlacionamos com o número de estudos em vida livre e cativeiro por modelos aditivos generalizados (GAM). Os estudos foram conduzidos em 20 estados, com 43% (n=120) concentrados na região sudeste. O Lyssavirus e Leishmania spp. foram os AI mais amplamente distribuídos, estando presentes em 11 e 6 estados, respectivamente. No entanto, os padrões de distribuição observados seguem um viés de amostragem e produtividade científica, sendo provavelmente mais determinados por isso que por padrões ecoepidemiológicos. Nosso banco de dados forneceu um total de 1.007 registros de combinações de hospedeiros e AI, representando cinco das seis espécies canídeos brasileiros e um total de 53 espécies de AI. Na rede de susceptibilidade Lyssavirus, Neospora caninum e Toxoplasma gondii foram detectados nas cinco espécies de canídeos. Estudos com AI de impacto para saúde pública e produção animal foram predominantes quando comparados aos restritos àos animais silvestres. Das populações de vida livre, 64% (32/63) dos estudos ocorreram em unidades de conservação (UC), no qual AI foram detectadas em 91% desses. Esse estudo é a primeira compilação de ocorrência e distribuição de AI em canídeos silvestres no Brasil, incluindo os que circulam em unidades de conservação. Nossos achados destacam ameaças e enfatizam a urgência de um sistema de vigilância que inclua a saúde silvestre. A construção deste banco de dados é a primeira etapa para aplicação da Análise de Risco de Doenças, que consiste em um plano de ação específico para esta problemática, tão necessário para o desenvolvimento de estratégias efetivas para os canídeos silvestres no Brasil.
Palavras-chave
Canídeos, epidemiologia, unidades de conservação, saúde única, espacialização
Financiamento
PNPD/CAPES
Área
Parasitologia/Epidemiologia
Autores
Natan Diego Alves de Freitas, Caio Filipe da Motta Lima, Fabiana Lopes Rocha