X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

ITENS ALIMENTARES DO LOBO-GUARA (CHRYSOCYON BRACHYURUS ILLIGER 1815) EM AREAS LITORANEAS E CAMPOS DE ALTITUDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Resumo

O lobo-guará é o maior canídeo sul-americano e é considerado uma espécie-chave do Cerrado. Sua distribuição no Brasil vai desde o Nordeste até o Sul, predominantemente em formações campestres no Cerrado. Contudo, novos registros da espécie em áreas litorâneas na Mata Atlântica, no estado do Rio de Janeiro, indicam que sua distribuição está sendo modificada. Espera-se que o lobo tenha mais sucesso ocupando formações abertas da Mata Atlântica porque são mais parecidas com seu habitat original. A espécie atua como dispersora de sementes no Cerrado, mas seu papel ecológico na Mata Atlântica ainda não é muito conhecido. O lobo-guará é uma espécie onívora e no Cerrado alimenta-se majoritariamente de pequenos mamíferos e frutos, em especial a lobeira (Solanum lycocarpum) e também apresenta sazonalidade na alimentação, preferindo se alimentar de pequenos mamíferos na estação seca, quando a disponibilidade de grãos é maior, e de frutos na estação chuvosa. Conhecer a ecologia alimentar da espécie é uma forma de inferir os ambientes que ela está ocupando e o papel que está exercendo no ecossistema. Neste trabalho relatamos itens da dieta do lobo-guará em duas localidades na Mata Atlântica por meio da análise de amostras fecais: uma na Fazenda Santa Rita (-22.319031°, -41.856843°, 33m), em Macaé-RJ, em setembro de 2017 e outra no Pico Ovos de Galinha (-22.364211°, -44.660896°, 2450m), no Parque Nacional de Itatiaia-MG (PNI), em abril de 2019. As amostras foram triadas sob uma lupa para a separação e identificação dos itens alimentares. Foram encontrados restos mandibulares, maxilares, e molares inferiores e superiores de pequenos roedores e marsupiais. A identificação dos restos foi feita por meio de comparação com espécimes depositados na Coleção de Mamíferos do NUPEM/UFRJ e com séries molares descritas na literatura em comparação aos dentes e mandíbulas encontrados nas fezes. Os fragmentos encontrados nas amostras fecais pertencem a três espécies de pequenos mamíferos, sendo dois roedores: Holochilus brasiliensis na amostra de Macaé e Oxymycterus aff. delator na amostra do PNI e; um marsupial, Monodelphis cf. dimidiata, também na amostra do PNI. Não foram encontrados itens de origem vegetal. As três espécies identificadas na dieta são características das fisionomias abertas: O. aff. delator ocorre nos Campos de Altitude da Serra da Mantiqueira, na Mata Atlântica; H. brasiliensis ocorre principalmente em habitats ribeirinhos e pantanosos na Mata Atlântica; M. cf. dimidiata ocorre principalmente em Campos de altitude na Mata Atlântica e em formações campestres no planalto meridional. Como esperado, os itens encontrados indicam que o lobo tem preferência por áreas abertas na Mata Atlântica, similares ao seu habitat original no Cerrado, e que é capaz de ocupar uma grande amplitude altitudinal. Entender a ecologia alimentar da espécie é essencial para traçar planos de conservação e manejo uma vez que a alimentação demonstra a interação com outras espécies e pode indicar tanto uma nova pressão de predação para as espécies como a ocupação de uma função que tem sido perdida na Mata Atlântica pela crescente perda de grandes carnívoros.

Palavras-chave

amostras fecais, canídeo, dieta, mata atlântica

Área

Ecologia

Autores

Bianca Rodrigues Machado, Caryne Braga, Alexandre Bezerra, Jhones Poubel, Pablo Rodrigues Gonçalves