Dados do Trabalho
TÍTULO
USO DA PAISAGEM POR MESOCARNIVOROS NA FLORESTA DE TABULEIROS, NO NORTE DO ESPIRITO SANTO
Resumo
A perda de habitat, associada à expansão agrícola, pode pôr em risco espécies sensíveis à alteração do habitat, especialmente àquelas que apresentam grande área de vida ou são dependentes de florestas nativas conservadas. Já as espécies generalistas, podem se beneficiar, explorando os novos recursos provenientes das áreas agrícolas. Discernir os principais fatores moduladores da ocorrência dessas espécies é imprescindível para compreender a sua permanência em longo prazo, em determinados habitats. Dessa forma, investigamos o padrão de ocupação de quatro espécies de mesocarnívoros ̶ uma invasora (Canis familiaris, o cachorro doméstico) e três nativas (Cerdocyon thous, Nasua nasua e Procyon cancrivorus) ̶ para determinar como utilizam o habitat em uma paisagem, no norte do Espírito Santo. Instalamos 48 armadilhas fotográficas aleatoriamente distribuídas a, pelo menos, dois quilômetros de distância, por 50 dias (entre janeiro e março de 2017), em três áreas protegidas (Reserva Biológica de Sooretama, Reserva Particular do Patrimônio Natural Recanto das Antas e Reserva Natural Vale) e entorno. Para testar nossas hipóteses, utilizamos modelos de ocupação (modo "single season" e "single species") no programa Presence. Como covariáveis que, possivelmente, influenciam a ocupação e detecção dos mesocarnívoros, selecionamos uma ambiental (distância à vegetação nativa), seis antrópicas (distância aos cultivos de banana e mamão; de cacau e de seringa; às florestas de eucalipto; às pastagens; às residências; e às estradas) e, ainda, uma covariável de competição (cães domésticos registrados nas armadilhas fotográficas). Como resultado, obtivemos que a menor distância aos pastos e às residências rurais foi determinante para a ocupação do cachorro doméstico. Já para os mesocarnívoros silvestres, a presença do cachorro doméstico se mostrou associada à presença dessas espécies. Contudo, a presença do cachorro doméstico não implica na ausência dos mesocarnívoros silvestres, o que gera uma problemática em relação ao aumento da chance de predação, competição e transmissão de doenças. Todas as demais covariáveis se mostraram relevantes para explicar a ocupação do N. nasua, apenas. Já para a detecção, destacamos a distância às estradas como relevante para o cachorro doméstico e N. nasua, com relação negativa e positiva, respectivamente. Apesar das estradas favorecerem a movimentação de diversas espécies, a explicação para a baixa probabilidade de detecção para o N. nasua é o possível intenso uso das estradas por predadores, como as onças, e pelos próprios cachorros domésticos. Destacamos, também, que a distância às plantações de seringa, cacau, banana e mamão explicaram melhor a detecção para os mesocarnívoros silvestres, indicando que eles são atraídos por esses recursos. Este estudo demonstra que essas espécies se adaptam às modificações no habitat, persistindo em ambientes heterogêneos. Contudo, devem-se considerar as várias ameaças que enfrentam na paisagem amostrada, como a presença do cachorro doméstico que, como indicado aqui, pode ser o maior modulador da ocupação dos mesocarnívoros silvestres.
Palavras-chave
Armadilha Fotográfica, agricultura, espécie invasora, Mata Atlântica, modelo de ocupação, mamíferos.
Financiamento
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) e Vale S.A. (Termo de outorga 529/2016; processo 75886634/16).
Área
Ecologia
Autores
Sávio Augusto Machado, Andressa Gatti, Jade Huguenin, Paula Modenesi Ferreira, Danielle Oliveira Moreira