X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

MONITORAMENTO DE LONGA DURAÇAO DE POPULAÇOES DE PEQUENOS MAMIFEROS A PARTIR DE PELOTAS DE SUINDARA (TYTO FURCATA): O CASO DO ROEDOR CERRADOMYS GOYTACA NO PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA

Resumo

Estudos populacionais de pequenos mamíferos são tradicionalmente realizados por meio de armadilhas de captura-viva, utilizando métodos de captura-marcação-recaptura (CMR), mas raramente apresentam duração maior do que cinco anos devido aos custos e dificuldades logísticas envolvidas. O monitoramento e estudo de pelotas regurgitadas por corujas-suindaras (Tyto furcata), por outro lado, pode ser considerado uma alternativa ao tradicional método de captura com armadilhas, devido aos menores custos, logística mais fácil, e à possibilidade de registro de espécies com baixa probabilidade de captura em armadilhas. Suindaras são predadoras vorazes de pequenos roedores e marsupiais, especialmente em formações abertas, e estudos sugerem que a caça é aleatória com respeito à espécie, variando em função da abundância das espécies de presa nos habitats de forrageio. Contudo, pouco se sabe sobre a efetividade da análise de pelotas de coruja para monitorar variações temporais na abundância de pequenos mamíferos. Neste trabalho, procuramos avaliar a utilidade da análise de pelotas de coruja para estudar flutuações populacionais de Cerradomys goytaca, um roedor endêmico das restingas do Norte Fluminense, de hábitos noturnos e que habita preferencialmente formações arbustivas abertas na restinga. Especificamente, avaliamos se a frequência de C. goytaca predados pela suindara T. furcata ao longo do tempo varia em função da flutuação temporal da abundância deste roedor estimada por métodos de CMR. Os dados de CMR foram coligidos no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (PNRJ) em campanhas trimestrais com armadilhas Sherman e Tomahawk entre fevereiro de 2012 e maio de 2015, e em campanhas bimestrais entre maio de 2016 a janeiro de 2018. A abundância de C. goytaca foi estimada pelo método MNKA e dividida pelo número de armadilhas-noite empregado em cada campanha para controlar a influência do esforço variável nas estimativas. A identificação de C. goytaca dentre os restos ósseos recuperados nas pelotas foi feita através da análise das características morfológicas do crânio, molares e mandíbulas. A relação entre o número de indivíduos predados e a abundância estimada por CMR foi avaliada em análises de regressão linear. O número de indivíduos predados variou positivamente em função da abundância de C. goytaca estimada por CMR (R2 = 0,198, F = 5.432, p = 0,02934). Ambos os métodos mostraram que o número estimado de indivíduos aumenta entre os meses de maio e junho, com picos máximos de crescimento entre agosto e setembro, e com posterior decréscimo no mês de outubro. Nos demais meses do ano, a abundância é mais reduzida. Os dois métodos também foram concordantes em evidenciar um declínio acentuado da população em 2015, após um profundo déficit pluviométrico ocorrido em 2014, e em mostrar uma recuperação da população em 2017. Os resultados sugerem que a variação temporal da frequência de C. goytaca entre as presas de T. furcata se aproxima da variação temporal na abundância deste roedor estimada por métodos de CMR. Portanto, a análise de pelotas de T. furcata constitui uma alternativa efetiva e de baixo custo para estudar flutuações populacionais de pequenos mamíferos em formações abertas por longo prazo. 

Palavras-chave

Predação; Captura-marcação-recaptura; Flutuação temporal

Financiamento

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Área

Ecologia

Autores

Victor Coutinho Silva, Pablo Rodrigues Gonçalves