Dados do Trabalho
TÍTULO
ACÚMULO DE MERCÚRIO EM MORCEGOS DE UMA FLORESTA URBANA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Resumo
Os morcegos são considerados sentinelas para vigilância em saúde, prestam importantes serviços ecossistêmicos e são potenciais bioindicadores ambientais, mas poucos estudos os investigaram como bioindicadores da poluição por mercúrio (Hg). Este é um metal pesado não essencial, tóxico aos organismos, bioacumula e pode assumir formas orgânicas capazes de biomagnificar. Com isso, torna-se essencial entender sob quais condições as populações de morcegos estão expostas ao Hg e o efeito de seu acúmulo nos organismos e populações; bem como o risco potencial dessa contaminação ao equilíbrio do ecossistema. Com isso, os objetivos desse estudo foram (i) investigar o acúmulo de mercúrio total (HgT) em morcegos de floresta urbana no município do Rio de Janeiro; (ii) quantificar e descrever as concentrações; e (iii) avaliar se elas variam entre os sexos e (iv) entre os hábitos alimentares. As amostragens dos morcegos foram realizadas na Estação Biológica Fiocruz Mata Atlântica, inserida no maciço da Pedra Branca, município do Rio de Janeiro. As coletas ocorreram de fev–dez/2018, a cada dois meses, em quatro noites por mês, utilizando 10 redes de neblina por quatro horas a partir do crepúsculo. Após eutanásia, amostras de pelos dorsais foram arrancadas e armazenadas a temperatura ambiente. Para análise de HgT foram utilizadas 103 amostras de 16 espécies e três hábitos alimentares. As amostras passaram por um processo de solubilização em meio ácido, redução, e detecção e quantificação em Espectrômetro de Absorção Atômica com geração de vapor frio. O teste Shapiro-Wilk foi utilizado para verificar a normalidade dos dados; Mann-Whitney e t-Studant, para testar a variação das concentrações entre sexos; e Kruskal-Wallis com post-hoc Dunn, para os hábitos alimentares. Como resultado, as concentrações variaram de 0,0004–12,42 μg/g (1,69±3,44). Morcegos insetívoros apresentaram as maiores concentrações 4,11±2,06 μg/g, seguido dos onívoros com 1,58±1,79 μg/g e frugívoros 0,06±0,39 μg/g. Os frugívoros diferiram significativamente dos demais hábitos no acúmulo de HgT, enquanto os valores para insetívoros e onívoros não apresentaram diferenças entre si. Entre os frugívoros, Artibeus lituratus apresentou concentrações significativamente inferiores a Carollia perspicillata (0,02±0,02 e 0,60±0,35 μg/g; p<0,0001). Já os insetívoros Molossus molossus e Myotis spp. não apresentaram diferenças significativas (4,09±1,22 μg/g e 4,21±1,34 μg/g; p=0,55). As concentrações encontradas estão dentro dos valores reportados para a maioria das espécies. Além disso, esperava-se encontrar concentrações distintas entre os hábitos alimentares, uma vez que níveis mais altos na cadeira trófica favorecem valores de HgT mais altos devido à biomagnificação, o que explica concentrações maiores em insetívoros. Somente uma amostra ultrapassou o limiar de 10 μg/g que indica o início dos danos à saúde. A diferença encontrada entre C. perspicillata e A. lituratus pode estar relacionada à complementação alimentar de insetos por C. perspicillata. Nossos resultados revelam que: (i) aparentemente, as concentrações de HgT encontradas nos morcegos da área de estudo não estão impactando a taxocenose; (ii) não foram encontradas diferenças significativas entre os sexos, mas foram encontradas diferenças entre os hábitos alimentares, com morcegos insetívoros apresentando maiores concentrações que frugívoros. Estudos adicionais são necessários para compreender os impactos da contaminação por Hg em indivíduos e populações.
Palavras-chave
Hg, HgT, pelo, Floresta Atlântica, Chiroptera, Pedra Branca, Brasil, Região Neotropical
Financiamento
CAPES, Faperj, PPGBBE e Programa de Apoio Estratégico à Saúde - PAPES/Fiocruz
Área
Ecologia
Autores
Brunna Almeida, Rodrigo Ornellas Meire, Ricardo Moratelli