X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

RELAÇOES ECOLOGICAS ENTRE MORCEGOS E MOSCAS ECTOPARASITAS EM AMBIENTES CAVERNICOLA E NAO-CAVERNICOLA

Resumo

Variáveis bióticas e abióticas são apontadas como possíveis influenciadoras nas relações ecológicas entre hospedeiros e ectoparasitos. Para morcegos, o abrigo diurno é um fator importante na estruturação dessas relações, que podem mudar de acordo com o tipo de abrigo, riqueza e tamanho da colônia. Assim, a variedade de abrigos e o comportamento adotado pelos morcegos em diferentes ambientes potencialmente poderia afetar a relação ectoparasito-hospedeiro. Para testar esta hipótese, analisamos e comparamos índices parasitológicos (IP) e redes de interações de moscas ectoparasitas (Streblidae e Nycteribiidae) sobre morcegos em ambientes cavernícola (ACav) e não-cavernícola (ANCav). Adicionalmente, verificamos se os IP estão correlacionados com o número de morcegos abrigados no ACav. Para tanto, ao longo de um período de dois anos, amostramos mensalmente morcegos no PARNA Catimbau, em Pernambuco, utilizando redes de neblina dispostas em parcelas de vegetação para o ANCav e captura com puçás dentro de uma caverna para o ACav. Neste, imagens termais e algoritmos de detecção de movimento foram usados para contar o número de morcegos dentro da caverna. Os morcegos foram inspecionados, suas moscas ectoparasitas coletadas e acondicionadas em frascos contendo etanol 70%. Foram construídas redes de interações para cada ambiente. No ANCav capturamos 436 morcegos de 21 espécies [Artibeus planirostris (n = 145), a espécie mais abundante; Lonchophylla mordax aquela parasitada com maior prevalência (71%)], e coletamos 927 moscas [24 espécies de Streblidae e duas de Nycteribiidae; Trichobius diphyllae (n = 169) a mais abundante]. Para o ACav, capturamos 354 morcegos de nove espécies [Pteronotus gymnonotus (n = 170) foi a mais amostrada; Diphylla ecaudata a com maior prevalência de parasitismo (97%)] e coletamos 2.724 moscas de 18 espécies (todas Streblidae), sendo T. diphyllae (n = 1.511) a mais abundante. Não houve diferença na prevalência entre ambientes (χ² = 18,667; df = 21; p = 0,6065), mas a intensidade média (U = -3,1783; p = 0,0014) e a abundância média (U = -3,3208; p = 0,0008) foram significativamente distintas, e ambas mais elevadas no ACav. O ambiente não afetou a prevalência das infestações, mas morcegos da caverna tiveram maior carga parasitária, certamente devido à maior estabilidade ambiental e fidelidade/permanência neste ambiente, o que favorece infestações/reinfestações das moscas. Entretanto, não houve correlação entre o número de morcegos abrigados na caverna e os IP, que foram elevados durante todo o período amostral. Tanto no ACav quanto no ANCav as moscas foram altamente espécie-específicas (100% e 98%, respectivamente) e as redes foram bastante modulares (sete e 14 subgrupos, respectivamente) e com baixa conectância (0,02469 e 0,01222, respectivamente). Nossos resultados convergem com o esperado para redes de interações com parasitos altamente específicos por seus hospedeiros, e mostram que tais relações são tão coesas que independem do ambiente em que ambos coexistem.

Palavras-chave

Caatinga, Interações parasito-hospedeiro, Nordeste do Brasil, Nycteribiidae, Streblidae

Financiamento

CAPES, CNPq, FACEPE, Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Área

Ecologia

Autores

Eder Barbier, Enrico Bernard