X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

OS GATOS NAO SAO TODOS IGUAIS... INVESTIGANDO A MORFOLOGIA CRANIANA DE UM PEQUENO FELINO NEOTROPICAL

Resumo

<p>O estudo da variação da forma dos mamíferos da ordem Carnivora tem importante papel na compreensão de uma variedade de processos biológicos, sendo o crânio uma das estruturas mais informativas. O gato-mourisco (<em>Herpailurus yagouaroundi</em>) é o mais distinto dos pequenos felinos Neotropicais. Sua ampla distribuição geográfica, desde o sul do Texas nos Estados Unidos até a província de Buenos Aires na Argentina, e variedade de habitats utilizados pela espécie permitem sugerir a existência de diferenças na morfologia do crânio ao longo dessa extensão. Assim, o objetivo deste trabalho foi testar a hipótese da existência de um padrão de diferenciação intraespecífica na morfologia do crânio do gato-mourisco, com fenótipos localizados como forma de adaptação local a diferentes ambientes, sendo seleção natural a força promotora predominante. Foram fotografados 59 crânios nas vistas ventral, dorsal e lateral de indivíduos adultos, depositados em coleções de 11 museus brasileiros. As fotos foram organizadas no programa tpsUtil 1.64 e os marcos anatômicos digitalizados no tpsDig 2.26, sendo então tratadas com técnicas de morfometria geométrica. Todos os espécimes possuiam localização conhecida, sendo agrupados de acordo com o bioma de origem (Amazônia: sete machos, cinco fêmeas e quatro indefinidos; Cerrado: dois machos, uma fêmea e dois indefinidos; Mata Atlântica: sete machos, seis fêmeas e 12 indefinidos; Pampa: seis machos, duas fêmeas e cinco indefinidos) para as subsequentes análises estatísticas no programa R. O Teste-t mostrou que o crânio dos machos é significativamente maior que o das fêmeas. Baseado na ausência de dimorfismo sexual na forma pela Análise Multivariada da Variância, e interação não significativa (<em>p</em>&gt;0.05) entre os fatores “sexo” e “bioma” pela Análise de Variância para o tamanho, machos, fêmeas e os indivíduos de sexo indefinido foram tratados juntos nas análises subsequentes. A Análise de Variância mostrou diferença significativa para o tamanho do crânio entre biomas (<em>p</em>&lt;0.001), sendo destacado pelo teste de Tukey que os espécimes da Amazônia são maiores do que os dos demais biomas. Quanto à forma, a Análise Multivariada de Variância revelou que os indivíduos do Cerrado são significativamente diferentes em relação à Mata Atlântica e Pampa pela vista lateral do crânio, apresentando um rostro ligeiramente mais longo e estreito e arcos zigomáticos menos robustos. Possivelmente as diferenças de tamanho estejam relacionadas à disponibilidade e tamanho diferenciados dos recursos de cada bioma, sendo um crânio maior reflexo de consumo de presas maiores. Mesmo apenas os indivíduos do Cerrado apresentando diferença de forma em uma vista do crânio, a hipótese dos fenótipos localizados (estruturados por bioma) foi confirmada. As características distintas deste ambiente poderiam estar exercendo pressões seletivas suficientes para distinguir estes espécimes. Porém, devido à flexibilidade ecológica, capacidade de dispersão da espécie, e da alta consistência da forma do crânio inerente da família Felidae em suportar certa variabilidade morfológica sem perder a funcionalidade, esta poderia ser uma flutuação fenotípica fixada. Dados básicos da ecologia do gato-mourisco ainda são necessários, bem como amostragens maiores que abranjam outros ambientes, de forma a melhorar nossa compreensão dos processos evolutivos envolvidos na variação morfológica da espécie.&nbsp;</p>

Palavras-chave

<p>Amazônia, Cerrado, Felidae, <em>Herpailurus</em>, morfometria geométrica</p>

Financiamento

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

Raissa Prior Migliorini, Mauro Anderson da Silva Bossi, Rodrigo Fornel, Carlos Benhur Kasper