X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

DESVENDANDO O DESCONHECIDO: PADROES DE VARIAÇAO CRANIANOS DO FURAO-PEQUENO (GALICTIS CUJA)

Resumo

O furão-pequeno (Galictis cuja) é um pequeno carnívoro da família Mustelidae. Apesar de sua ampla distribuição geográfica, desde o extremo sul do Peru, sul da Bolívia e nordeste do Brasil até o sul do Chile e Argentina, figura entre os mamíferos menos conhecidos da região Neotropical. Estudos da variação da morfologia são importantes na compreensão de uma variedade de processos biológicos, sendo o crânio uma das estruturas mais informativas. Porém, mesmo sendo uma espécie amplamente distribuída em uma variedade de habitats, a morfologia craniana do furão-pequeno não tem sido explorada em detalhes. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar diferenças na forma e tamanho do crânio do furão-pequeno testando duas hipóteses: (I) populações de diferentes biomas diferem em morfologia resultante de adaptações por seleção natural; (II) uma morfologia que não difere, sendo generalista ao longo da distribuição, seguindo o modelo do isolamento por distância. O crânio de 52 indivíduos adultos depositados em coleções de nove museus brasileiros foi fotografado nas vistas ventral, dorsal e lateral. As fotos foram organizadas no programa tpsUtil e os marcos anatômicos digitalizados no tpsDig, sendo tratadas com técnicas de morfometria geométrica. Devido à ausência de dimorfismo sexual na forma, todos os espécimes foram agrupados entre Mata Atlântica (25) e Pampa (27) para as subsequentes análises estatísticas realizadas no programa R. As localidades dos espécimes foram utilizadas na geração de uma matriz de distância geográfica no programa Geographic Distance Matrix Generator. O Teste-t mostrou que o crânio dos indivíduos do Pampa é significativamente maior do que dos da Mata Atlântica. A Análise Multivariada de Variância revelou não haver diferença na forma do crânio entre biomas. Houve correlação significativa entre a distância geográfica e a forma para a vista dorsal (p = 0,001). A média de peso dos espécimes do Pampa (1,59 kg) também foi maior do que os da Mata Atlântica (1,23 kg). A disponibilidade e tamanho das presas em cada bioma pode ser a explicação para o padrão de diferenciação de tamanho observado. Nossos resultados corroboraram a hipótese do isolamento por distância, mas a existência de fenótipos localizados adaptados a diferentes ambientes não pode ser totalmente excluída, devido à falta de amostragem de espécimes deste mustelídeo em outras regiões. Sabe-se que a ecologia alimentar é um fator de influência na evolução da forma do crânio na família Mustelidae, levando modificações relacionadas à biomecânica da mastigação. Infelizmente, não há informação sobre sua dieta na Mata Atlântica para comparações. Assim, podemos apenas especular que esta espécie esteja se alimentando de presas maiores no Pampa. Este foi o primeiro trabalho a investigar variações intraespecíficas na forma e tamanho do crânio do furão-pequeno. Dados básicos da ecologia da espécie ainda são necessários, de forma a melhorar nossa compreensão dos processos evolutivos envolvidos nos padrões de diversificação de forma e tamanho. Amostragens que abranjam o restante da distribuição geográfica da espécie, assim como uma maior representatividade de espécimes do Cerrado e Caatinga são recomendadas para elucidar com maior precisão estas e outras questões para futuras pesquisas morfológicas.


Palavras-chave

Mata Atlântica, morfometria geométrica, Mustelidae, Pampa


Área

Anatomia e Morfologia

Autores

Raissa Prior Migliorini, Mauro Anderson da Silva Bossi, Rodrigo Fornel, Carlos Benhur Kasper