Dados do Trabalho
TÍTULO
PORCOS MONTEIROS E TAIASSUIDEOS NO NORTE DO PANTANAL: DISTRIBUIÇAO E SOBREPOSIÇAO DE NICHO
Resumo
Os efeitos da introdução de espécies exóticas são um dos temas críticos da atualidade. Muitos são os relatos da interação entre formas não domésticas e ferais de Sus scrofa com os ecossistemas utilizados pelo homem, mas poucos trabalhos abordam ecossistemas naturais ou semi-naturais. Sicuro e Oliveira (2002) demonstraram que porcos monteiros teriam vantagem ecomorfológica num eventual cenário de competição com os taiassuídeos (Pecari tajacu e Tayassu pecari). Desbiez et al. (2009) e Oliveira-Santos (2011) sugerem que esta interação não parece ter um impacto negativo sobre as duas espécies de taiassuídeos. Adicionalmente, Cordeiro et al. (2018) descrevem as relações dos porcos monteiros, via Modelagem de Distribuição de Espécies (MDE), com o mosaico da paisagem norte pantaneira. Galetti et al. (2019) avaliam a sobreposição da dieta e período de atividade entre os taiassuídeos, com e sem a presença dos porcos monteiros. Desta forma, as questões relacionadas com o efeito dos porcos monteiros nos ecossistemas pantaneiros estão em aberto, especialmente porque os cenários das interações entre as espécies e a estrutura das paisagens, ainda não foram analisadas concomitantemente com a complexidade dos cenários ecológicos. No presente trabalho são realizadas comparações considerando a sobreposição da adequabilidade ambiental, via MDE (algoritmo MaxEnt) e do período de atividade das espécies. Para tanto, foram utilizadas ferramentas de geoprocessamento e índices de sobreposição (Fuzzy, Pianka e similaridade “D”) gerados via dismo e spaa (pacotes do R). Os períodos de atividades foram avaliados através de coeficiente de sobreposição (Overlap, R). Dados de ocorrência e atividade foram coletados via armadilhamento fotográfico. Dados de sensoriamento remoto foram utilizados na caracterização da paisagem. O estudo foi desenvolvido em uma Unidade de Conservação (UC-RPPN SESC Pantanal, 1076 km²), e seu entorno (fazendas e minifúndios), Norte do Pantanal (MT). Os resultados indicam que porcos monteiros “preferem” (maior adequabilidade) paisagens próximas a corpos d’água, dominadas por pastagem e tendem a evitar áreas predominantemente florestais ou zonas de cerrados com vegetação herbácea densa. Em contrapartida, para os taiassuídeos áreas florestais apresentam maior adequabilidade. Tal relação é mais evidente para queixada; áreas com maior adequabilidade essencialmente florestais. Caititus (P. tajacu) também apresentam zonas de adequabilidade alta em florestas, mas áreas campestres com algum elemento florestal também aparecem no modelo como adequadas. Os períodos de atividade das três espécies apresentaram valores altos de sobreposição, sendo a maior sobreposição observada entre as duas espécies de taiassuídeos (0.86 ; IC 0.81 - 0.90), e a menor entre o porco monteiro e o caititu (0.71; IC 0.64 - 0.72). Todos os índices de sobreposição apresentam um cenário similar onde a sobreposição é mais evidente entre os taiassuídeos do que estes com o porco monteiro. Nas comparações entre a UC e áreas adjacentes, valores de similaridade espacial ou sobreposição são ainda menores entre porcos monteiros e taiassuídeos dentro da UC. Há evidências de que apesar do grande potencial das formas ferais de S. scrofa no uso da paisagem, fatores associados à estrutura do mosaico reduzem o potencial impacto negativo sobre os taiassuídeos.
Palavras-chave
Pantanal, Porco Monteiro, Taiassuideos, MDE, Sobreposição de Nicho
Financiamento
CAPES, CNPq, Sesc Pantanal
Área
Ecologia
Autores
José Luis Passos Cordeiro, Fernanda Trierveiler, Gabriel Selbach Hofmann, Igor P Coelho, Luiz Flamarion Barbosa Oliveira