X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

VARIAÇAO TEMPORAL DA DIETA DA ONÇA-PINTADA (PANTHERA ONCA) EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA NO SUDESTE DO BRASIL

Resumo

<p>Grandes felinos são fundamentais para o funcionamento do ecossistema, sendo dependentes da conservação das espécies que consomem. Sua dieta pode responder a mudanças na disponibilidade das presas, o que pode resultar em variação na composição da dieta ao longo do tempo. O presente estudo objetivou caracterizar a dieta da onça-pintada em um remanescente de Mata Atlântica para estabelecer se há variação temporal no consumo de presas e determinar as presas críticas para a conservação deste felino. O estudo foi conduzido na Reserva Natural Vale (RNV; Linhares/ES) com base na análise de amostras fecais (n = 191 amostras). A variação na dieta foi avaliada a partir da comparação de amostras coletadas em três períodos distintos: ao longo de 1996 (n = 101); entre 2006 e 2009 (n = 35); e entre 2014 e 2018 (n = 55). A porcentagem de ocorrência de presas consumidas foi calculada para cada período, sendo consideradas presas principais aquelas com valor superior a 5% para este parâmetro. O número de indivíduos consumidos, a biomassa consumida, a amplitude de nicho (índice padronizado de Levins) e a sobreposição de nicho (índice de Pianka) também foram calculados. Foram identificados 27 táxons de presas, tendo havido variação na composição da dieta entre os períodos. Oito presas foram consideradas principais em pelo menos um período, sendo Tayassuidae e quati presas principais nos três períodos; mão-pelada no primeiro e segundo períodos; <em>Dasypus</em> sp. e jabuti no primeiro período; paca e Aves no segundo período; e capivara no terceiro período. A dieta da onça-pintada apresentou tendência à especialização, de acordo com a amplitude de nicho trófico (0,315-0,379), e a sobreposição de nicho entre períodos apresentou valores intermediários (0,595-0,696). O número de indivíduos consumidos e a biomassa consumida variaram em termos de representatividade entre presas de médio e grande porte, ressaltando que durante o terceiro período o consumo de presas de grande porte ocorreu em maior proporção. A variação temporal nos itens alimentares consumidos pela onça-pintada pode ser atribuída a mecanismos relacionados ao forrageamento ótimo, com o consumo de presas energeticamente mais lucrativas em cada momento, e ao equilíbrio predador-presa, considerando a alternância no consumo de determinadas presas ao longo do tempo. Ressalta-se que a permanência da população estudada de onça-pintada depende, entre outros fatores, da disponibilidade de presas que podem se tornar menos abundantes na região devido a interferências antrópicas, como, por exemplo, caça e atropelamentos. Adicionalmente, o consumo de animais domésticos pode tornar esse grande felino susceptível a novas doenças, tendo sido registrado o consumo de cães-domésticos no terceiro período. As presas principais consumidas pela onça-pintada mostraram-se críticas para a conservação deste felino, representando 69-82% dos itens consumidos nos períodos analisados. Entretanto, é necessário também que haja diversificação de presas secundárias para que as demandas desse grande predador sejam devidamente supridas ao longo do tempo, ressaltando sua natureza oportunista.</p>

Palavras-chave

<p>Carnivora, Ecologia trófica, Forrageamento ótimo, Onça-pintada, Presas-chave.</p>

Financiamento

<p>VALE-FAPES (Projeto 510/2016) e&nbsp;UVV (M01-2017PI002)</p>

Área

Ecologia

Autores

Hilton Entringer Jr, Hermano José Del Duque Jr, Adriano Garcia Chiarello, Francisco Palomares, Ana Carolina Srbek-Araujo