X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

EFEITO DO FOGO E DA SECA SEVERA SOBRE O TAMANHO POPULACIONAL DE GRACILINANUS AGILIS (DIDELPHIMORPHIA: DIDELPHIDAE) EM UMA AREA DE CERRADO SENTIDO RESTRITO

Resumo

Estudos sobre fatores que afetam as flutuações populacionais de pequenos mamíferos concentram-se na influência dos fatores bióticos, tais como predadores, competição e disponibilidade de alimento. Apesar disso, outros estudos já evidenciaram a importância dos fatores abióticos, tais como eventos climáticos extremos e distúrbios ambientais na dinâmica populacional. O presente trabalho analisou a influência da seca severa, do fogo e da temperatura mínima no tamanho populacional de Gracilinanus agilis (Didelphimorphia: Didelphidae) em uma área de cerrado sentido restrito na Estação Ecológica do Panga (Uberlândia/MG). Foram realizadas sessões de captura mensais entre 2011 e 2018, em uma grade de capturas de 1,12ha, com armadilhas Sherman no solo e no sub-bosque para captura dos animais. Os animais capturados foram marcados com brincos numerados, e após a triagem foram soltos no mesmo local de captura. A área estudada foi acometida por dois incêndios intensos, em outubro/2014 e setembro/2017. O tamanho populacional mensal de G. agilis foi estimado usando o programa Population Analysis (POPAN). Valores mensais de precipitação(mm) foram extraídos entre 1981 e 2018, através da base de dados WorldClim, e o índice de precipitação padronizado foi utilizado para verificar a ocorrência de períodos de seca severa durante os anos estudados (2011-2018). A média de temperatura mínima mensal foi obtida na estação climatológica de Uberlândia entre os anos estudados. A influência do fogo, da seca severa, e da temperatura mínima sobre a abundância de G. agilis foi testada separadamente em dois períodos: no inverno/estação seca (maio-agosto) e no verão/estação chuvosa (outubro- fevereiro). Os resultados indicaram a ocorrência de quatro períodos de seca severa durante o estudo, sendo dois no inverno (2011 e 2014) e dois no verão (2013/2014 e 2014/2015). Dessa maneira, 12 modelos lineares generalizados foram construídos no programa R, usando os tamanhos populacionais mensais de cada estação como variável resposta, e os fatores abióticos estudados como variáveis preditoras. As estações chuvosas de 2014 e 2017 foram consideradas como afetadas pelo fogo, e as estações seguintes (seca de 2015 e 2018) como pós-fogo. Para seleção de modelos foi utilizado o critério de informação de Akaike corrigido para amostras pequenas (AICc), usando o pacote “AICcmodavg” no programa R. No inverno, o único modelo adequado (ΔAICc<2) incluiu o efeito do fogo (AICc: 200.45), demonstrando que o tamanho populacional foi reduzido após o fogo e se manteve menor no inverno do ano seguinte. Já no verão (out-fev), o melhor modelo incluiu a interação entre seca severa e fogo (AICc: 203.99), demonstrando que houve um efeito negativo sinergético desses dois fatores sobre o tamanho populacional de G. agilis. Dessa forma, nossos resultados indicam que incêndios intensos reduzem a abundância de G. agilis nas estações seguintes ao fogo, especialmente quando o fogo ocorre em períodos de seca severa, talvez por conta da consequente diminuição na disponibilidade de recursos. Estudos futuros devem avaliar o efeito do fogo e da seca severa sobre a sobrevivência e o recrutamento de G. agilis, de maneira a entender quais dos parâmetros contribui mais para a redução da abundância da espécie estudada.

Palavras-chave

flutuação populacional marsupiais distúrbios flutuações climáticas

Área

Ecologia

Autores

Rodrigo Cassimiro Rossi, Natalia Oliveira Leiner