Dados do Trabalho
TÍTULO
SOCIALIDADE E PADROES ESPACIAIS EM BUGIOS-RUIVOS (ALOUATTA CLAMITANS)
Resumo
Interações entre indivíduos configuram a unidade básica para a existência de socialidade, determinando os mais diferentes tipos de relações sociais - competição por forrageio, escolha de parceiros, formação e manutenção de grupos, cooperação, etc. Nesse sentido, o estudo de padrões de associação entre indivíduos permite medir diretamente a relação entre eles, sendo uma maneirarefinada de entender a dinâmica social dentro de um grupo. A associação espacial é particularmente importante para espécies que interagem pouco, sendo por vezes uma das únicas formas de se analisar a natureza e a intensidade dos laços sociais. O bugio-ruivo (Alouatta clamitans) é um dos principais sentinelas durante surtos de febre amarela nas regiões Sudeste-Sul do Brasil; é também uma espécie de primata que reconhecidamente interage pouco. Até o presente momento, não há estudos que investiguem a associação espacial entre indivíduos, sendo este o objetivo da presente pesquisa. Os dados foram colhidos no Parque Estaudal Carlos Botelho, São Paulo, durante o ano de 2018. Foram escolhidos dois grupo: o grupo 3, composto por 7 indivíduos, e o grupo 4, composto por 6 indivíduos; com um total de 1700h de observação. O método de coleta in situ foi o scan, tendo como parâmetros a proximidade entre indivíduos (limite de até 2 metros) e intervalos de 20 minutos entre as observações. Utilizando-se o software SOCPROG 2.9, foram feitas análises mensais, semestrais e anuais para ambos os grupos. Para tais análises, foi utilizado o índice half weight, indicado para situações onde nem todas as informações podem ser obtidas a cada observação. Foram realizados i) testes de associações (aleatórias ou não-aleatórias), ii) análise de redes sociais e iii) dendogramas. Para o item i, os valores indicaram a existência de relações preferidas, dentre elas, associações entre mães e filhotes, por exemplo. Para a análise de redes sociais do item ii, foram medidos os valores de autovetor de centralidade, que representa quão bem um indivíduo está conectado com o resto do grupo; e o coeficiente de agrupamento, que representa o grau de sociabilidade individual. Geralmente os maiores machos de um grupo de bugios são chamados "dominantes" ou "centrais", porém, embora dominância hierárquica seja um tipo de centralidade, não foram obtidos valores elevados para esses indivíduos. As fêmeas, por sua vez, apresentaram os maiores valores, o que pode indicar seu papel em manter a estabilidade do grupo. Finalmente, foram gerados dendogramas (item iii), com coeficiente cofenético acima de 0,9, um valor considerado adequado para a representação gráfica do grupo. Essa forma de investigação in situ, por mais desafiadora que seja, é de extrema relevância para o entendimento do aprendizado social e transmissão de genes e doenças, possibilitando, a partir dos resultados obtidos, melhores políticas em prol da conservação e maiores informações acerca de manejo correto em cativeiro.
Palavras-chave
Associação espacial; análise de redes sociais; primatas; centralidade; relação social.
Financiamento
CNPq (processo número 143786/2018-0) para M. Telles. CAPES (processo número 1646750) para G. Sobral.
Área
Etologia/Bem-estar animal
Autores
Marina Telles, Gisela Sobral, Cláudio Alvarenga Oliveira