Dados do Trabalho
TÍTULO
Cães domésticos como possíveis amplificadores epidemiológicos da febre maculosa no Brasil
Resumo
Introdução: A febre maculosa é uma doença transmitida aos seres humanos pela picada de carrapatos infectados por bactérias do gênero Rickettsia, comumente associada a cenários ecoepidemiológicos que remetem à presença de mamíferos, domésticos ou silvestres, passíveis de serem hospedeiros de determinadas espécies de carrapatos e, por isso, importantes para a manutenção dos ciclos ecológicos da doença no Brasil. Mamíferos domésticos, em particular os cães e os equídeos, tem peculiar função na manutenção do ciclo ecológico das riquetsias, servindo de repasto sanguíneo para diversas espécies de carrapatos de importância sanitária no Brasil. O cão doméstico (Canis lupus familiaris), possivelmente, sirva também como amplificador epidemiológico para a febre maculosa, visto que sua resposta imunológica contribui para a disseminação das bactérias na corrente circulatória em curto espaço de tempo. Sendo a suspeição clínica da febre maculosa de notificação compulsória à Vigilância em Saúde, independentemente de haver diagnóstico laboratorial confirmatório, os dados associados à vigilância de ambiente contidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-MS) foram utilizados para a realização desse estudo. Objetivo: Avaliar a repercussão do contato de seres humanos com mamíferos em casos notificados de febre maculosa através da análise de dados epidemiológicos disponibilizados por conta de solicitação oficial ao Ministério da Saúde. Material e Métodos: Análise de preenchimento dos campos 34 (contato com animais), 58 (zona de infecção) e 59 (ambiente de infecção) das 16331 fichas de investigação para febre maculosa entre os anos de 2007 e 2016 nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Resultados: Dentre os 16331 eventos notificados, foram confirmados 953 casos para a febre maculosa, em que 63,95% dos pacientes relataram contato com carrapatos, 20,33% com capivaras, 36,15% com cães, 18,57% com equinos e 14,73% com bovinos. O contato com mamíferos domésticos supera demasiadamente o contato com mamíferos silvestres, independentemente do ambiente em questão. Em áreas urbanas 80,53% e nas áreas consideradas não urbanizadas 73,95% dos casos estão relacionados ao contato com mamíferos domésticos. Ressalta-se a importância epidemiológica do cão doméstico, que se relaciona com 269 dos casos urbanos e 60 dos casos considerados de áreas não urbanas, visto ser um possível amplificador para a febre maculosa. Por fim, observou-se que 29,68% dos casos confirmados teriam o ambiente domiciliar como local de provável infecção. Discussão: Além da presença do carrapato, os pacientes, em sua maioria, relatam o contato com mamíferos domésticos com maior frequência que com mamíferos silvestres nos locais de provável infecção. Esse fato parece apoiar as hipóteses de mudança do perfil epidemiológico da doença no Brasil, caracterizadas pelos recentes processos de urbanização e domiciliação da febre maculosa. Conclusão: Os resultados iniciais do estudo parecem corroborar para a hipótese de que quanto maior a inter-relação urbano-silvestre, representada pela linha de interseção entre os bairros periféricos e as matas tropicais de determinadas regiões do sudeste brasileiro, maior a chance de carrapatos realizarem repasto sanguíneo em cães domésticos que, por sua vez, poderiam servir como amplificadores imunológicos ou, minimamente, carreadores de carrapatos infectados que ampliariam paulatinamente a área espacial da doença.
Palavras-chave
cão doméstico; febre maculosa; epidemiologia; domicilição; urbanização
Área
Parasitologia/Epidemiologia
Autores
CLAUDIO MANUEL RODRIGUES, LENA GEISE, GILBERTO SALLES GAZETA