X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

VARIAÇAO TEMPORAL NOS COMPONENTES DA RESPOSTA DE FASE AGUDA DE UMA ESPECIE DE MORCEGO FRUGIVORO

Resumo

Os morcegos são potenciais transmissores de diversos patógenos, os quais em sua grande maioria, permanecem latentes e não são virulentos para estes mamíferos. Uma das razões aventadas para explicar a não virulência destes patógenos em morcegos, seria a ação diferenciada de componentes imunológicos que controlam precocemente a proliferação desses agentes infecciosos. Sabe-se que a primeira linha de defesa imunológica dos vertebrados contra patógenos está associada com o sistema imune inato, que envolve a ativação de uma cascata de respostas comportamentais e fisiológicas. Tais mudanças são componentes da Resposta de Fase Aguda (RFA), uma resposta de alto custo energético que tem por função conter infecções iminentes e potencializar a ação do sistema imune adaptativo. Não obstante à sua importância clara no combate de patógenos em processos infeciosos, pouco se sabe como os componentes comportamentais e fisiológicos da RFA variam ao longo do tempo após o início de uma infecção. Para entender melhor como esses componentes se comportam nas primeiras horas da infecção e qual a relação da RFA com a alta capacidade dos morcegos em hospedar diversos patógenos, nós desafiamos imunologicamente o morcego-de-cauda-curta (Carollia perspicillata). Para isso inoculamos lipopolissacarídeo (LPS) extraído de Escherichia coli, uma endotoxina não patogênica, capaz de ativar a RFA. Dessa maneira, foi possível comparar a variação da temperatura e massa corpórea, produção e contagem de leucócitos e consumo alimentar 24h antes e 24h depois desses animais serem desafiados imunologicamente. Nossas premissas foram que após a injeção de LPS, haveria aumento na temperatura corpórea (febre), na produção de leucócitos, redução na massa corpórea e no consumo de alimento, além de aumento no nível de estresse. Não observamos o desenvolvimento de um estado febril e de leucocitose após inoculação de LPS. Por outro lado, a injeção de LPS levou a uma redução na massa corpórea, na frequência alimentar e aumento na razão entre neutrófilo/linfócito (N/L), indicativo de uma condição de estresse. Os componentes da RFA são tidos como conservativos dentre os vertebrados. Redução na massa corpórea e na frequência alimentar foi observada no presente estudo e parece ser uma resposta realmente conservativa, uma vez que já foi encontrada em outros mamíferos, incluindo morcegos. O aumento na razão N/L, após inoculação por LPS, sugere liberação de hormônios glicocorticoides, os quais podem ter levado a imunossupressão e consequentemente a ausência de leucocitose. Ausência de leucocitose também foi observada no morcego Molossus molossus e em outros estudos com Carollia perspicillata. Contudo, a espécie Myotis vivesi apresenta aumento na produção de leucócitos. A resposta febril, um componente clássico da RFA, não foi observada no presente estudo, padrão similar ao encontrado para o morcego insetívoro Molossus molossus. Todavia, esta resposta foi observada no morcego piscívoro Myotis vivesi após inoculação por LPS. Estes resultados sugerem que os componentes da RFA em morcegos apresentam padrões espécie-específicos e que não exista um padrão uniforme na forma como o sistema imune inato dos morcegos lida com processos infecciosos. Estudos adicionais são necessários para entender essa variação dentre as espécies.


Palavras-chave

Carollia perpicillata; Sistema Imune Inato; Resposta de Fase Aguda.


Financiamento

1) FAPESP - Processo 2014/16320-7 



2) PIBIC - Processo Prope-PIBIC 2017/2018 – 43486


Área

Fisiologia

Autores

Gabriel Melhado, Luis Gerardo Herrera-Montalvo, Ariovaldo Pereira Cruz-Neto