X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

DIETA DE MORCEGOS EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA NO SUDESTE DO BRASIL: ESTARIAM OS ITENS CONSUMIDOS ASSOCIADOS A MASSA CORPORAL OU A FILOGENIA?

Resumo

Os morcegos desempenham importantes funções ecológicas, as quais estão associadas especialmente à dieta das espécies, e a seleção dos itens alimentares parece estar relacionada a características biométricas e morfológicas dos táxons. Devido à carência de estudos, as espécies são classificadas em grandes grupos quanto à dieta, baseados no conhecimento acerca dos hábitos alimentares de poucas espécies, os quais são generalizados para gêneros, subfamílias ou famílias. O presente estudo objetivou caracterizar a dieta de morcegos e verificar se os itens alimentares consumidos estão associados à massa corporal ou se são definidos por aspectos filogenéticos dos grupos amostrados. Os dados foram coletados na Reserva Natural Vale (Linhares/ES), entre outubro de 2015 e julho de 2017, totalizando 31 noites de amostragem. Foram utilizadas redes-de-intercepção-de-voo (10 m x 2,5 m), com esforço amostral total de 372 horas-rede. Foram coletadas amostras fecais e identificados os itens alimentares consumidos. Foi calculada a frequência de ocorrência (FO%) de cada item alimentar e a classificação da dieta foi baseada na proporção dos itens consumidos. Para testar o efeito da massa corporal ou da filogenia sobre a dieta, foi adotada análise multivariada classificatória (Cluster). Foram capturados 245 espécimes, distribuídos em cinco famílias, 20 gêneros e 29 espécies, tendo sido obtidas 134 amostras fecais (26 espécies; média=5,2 amostras/espécie; variação=1 a 28 amostras/espécie). Entre os itens alimentares consumidos, foram identificados frutos de 11 táxons e pólen, além de quatro ordens de insetos (Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Orthoptera) e uma ordem de vertebrado (Anura). Os morcegos foram classificados em seis grupos principais quanto à dieta: Frugívoro, Frugívoro-insetívoro, Insetívoro, Insetívoro-frugívoro, Insetívoro-nectarívoro e Hematófago. Algumas das guildas tróficas identificadas estão representadas por um maior número de espécies, havendo diferentes proporções de consumo e/ou variações em relação aos itens específicos utilizados dentro de uma mesma guilda trófica. As famílias Molossidae, Vespertilionidae e Thyropteridae foram classificadas como Insetívoras, embora para as duas primeiras tenha sido registrado o consumo ocasional de frutos. A família Phyllostomidae apresentou maior consumo de frutos e insetos, sendo classificada como Frugívora-insetívora, embora tenha havido grande diversificação da dieta entre seus representantes. O tipo de dieta foi semelhante dentro das subfamílias de Phyllostomidae, sugerindo conservadorismo a este nível taxonômico, mas variou entre subfamílias. Algumas espécies apresentaram maior flexibilidade alimentar (tipos de itens consumidos), enquanto outras foram mais restritas quanto à composição da dieta. A massa corporal não se mostrou um fator determinante da dieta, mas o tamanho dos morcegos parece desempenhar um papel importante no particionamento de recursos alimentares. A dieta esteve mais relacionada com a filogenia dos táxons, demonstrando um certo conservadorismo filogenético. Isso deve estar relacionado à evolução das características cranianas que influenciam a dieta, embora a relação taxonômica não seja um indicador determinístico dos hábitos alimentares, sugerindo que a dieta de morcegos pode ser influenciada por outros fatores além da morfologia. Os frutos parecem ser um item alimentar complementar importante para morcegos da Mata Atlântica, sendo seu consumo provavelmente um dos fatores mais importantes no impulsionamento das radiações em Phyllostomidae.

Palavras-chave

Filogenia, Nicho trófico, Recursos alimentares, Tamanho corporal.

Financiamento

UVV (M01-2015PI004 e M01-2016PI003) e FAPES (Projeto 607/2015)

Área

Ecologia

Autores

Ariana Pignaton Gnocchi, Suéli Huber, Ana Carolina Srbek-Araujo