X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

ANALISE COMPARADA DO FEMUR EM YANGOCHIROPTERA (CHIROPTERA, MAMMALIA): TAXONOMIA E MORFOLOGIA FUNCIONAL

Resumo

<p>Mais conhecidos pela notável morfologia dos membros anteriores, os morcegos também são únicos entre os mamíferos em relação aos seus membros posteriores — suas pernas são rotacionadas em até 180º, geralmente reduzidas em tamanho. O fêmur é o principal osso da perna, mas até hoje poucos estudos com morcegos consideraram sua morfologia em detalhe. O presente estudo teve como objetivo descrever a anatomia do fêmur em uma grande amostra de Yangochiroptera, subordem altamente diversificada em relação à morfologia, ecologia e comportamento, e explorar as principais tendências de variação morfológica neste osso. Foram analisados representantes de 12 das 14 famílias de Yangochiroptera, totalizando 70 gêneros e 125 espécies, que estão depositadas na coleção do Museu Nacional (RJ) e do American Museum of Natural History (NY). As amostras incluíram representantes dos dois sexos, todos adultos.&nbsp;Na descrição anatômica, foram utilizados treze caracteres categóricos (e.g. forma do fêmur, desenvolvimento dos trocânteres) e, nas análises quantitativas, que incluíram análise de componentes principais filogenética (ACPf) e Notched Boxplots, cinco dimensões lineares (comprimento, largura latero-medial e antero-posterior do fêmur, comprimento e largura latero-medial da cabeça do fêmur) e o índice de robustez. Com a utilização dos dados categóricos, as doze famílias foram diagnosticadas e as da região neotropical foram incluídas em uma chave de identificação, relevante para estudos paleofaunísticos. A ACPf mostrou que, além do tamanho, os principais eixos de variação no fêmur estão relacionados à robustez e à morfologia da cabeça. Em conjunto, os dados categóricos e quantitativos apontam que Mormoopidae, Furipteridae e Natalidae apresentam a morfologia mais simplificada do fêmur, com baixos valores de robustez e estruturas anatômicas reduzidas (e.g. trocânteres pouco desenvolvidos e arredondados, fossa trocantérica rasa). Por outro lado, Molossidae, Mystacinidae e Desmodontinae, apresentam os maiores valores de robustez e caracteres anatômicos bem desenvolvidos, como trocânteres alongados, fossa trocantérica profunda, tubérculos e cristas posteriores no trocânter maior e cristas laterais longas ou deslocadas medial/distalmente na haste. Em conjunto, essas características permitem uma maior inserção e ação da musculatura do quadril e são importantes para a locomoção quadrúpede, hábito bem conhecido nesses táxons. Os Noctilionidae apresentam valores altos de robustez, próximos aos quadrúpedes. Para eles, no entanto, uma hipótese funcional alternativa envolveria demandas relacionadas ao comportamento de arrasto, onde pernas mais robustas poderiam favorecer a ação contrária das forças de resistência da água. Se a ligação funcional entre o comportamento do arrasto e a robustez da perna for verdadeira, a alta robustez observada em <em>Myotis simus</em>, que aparece como um outlier entre os Vespertilionidae, pode indicar uma demanda para o uso das pernas, semelhante à de <em>Noctilio</em>. Phyllostomidae apresentou a maior variação morfológica entre seus representantes, com Desmodontinae e Stenodermatinae apresentando morfologias mais diferenciadas, o que pode estar associado à grande radiação adaptativa e variação em estratégias alimentares presente nos membros dessa família. Os resultados aqui apresentados permitiram a caracterização de táxons, a identificação de convergências e a interpretação de aspectos funcionais na morfologia do fêmur, ressaltando a importância do estudo de ossos apendiculares para o entendimento evolutivo, ecológico e taxonômico do grupo.</p>

Palavras-chave

<p>Anatomia, quadrupedalismo, métodos comparados</p>

Financiamento

<p>FAPERJ, CAPES (001), CNPq (308505/2016)</p>

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

Nathália Siqueira Veríssimo Louzada, Marcelo Rodrigues Nogueira, Leila Maria Pessôa