Dados do Trabalho
TÍTULO
CONSUMO DE TEIU (SALVATOR MERIANAE) POR JAGUATIRICA (LEOPARDUS PARDALIS) EM UM REMANESCENTE DA MATA ATLANTICA NO SUDESTE DO BRASIL
Resumo
A jaguatirica é a maior espécie do gênero Leopardus (peso médio=11kg). Está distribuída do sul dos Estados Unidos ao norte da Argentina, ocorrendo em ambientes variados. Apesar da ampla distribuição geográfica, é considerada Vulnerável à extinção na Mata Atlântica. Sua dieta pode apresentar variações em resposta a alterações na disponibilidade de presas, refletindo sua natureza oportunista. O teiú é uma das presas consumidas pela jaguatirica, representando um dos maiores lagartos neotropicais (peso médio=5kg). O teiú hiberna durante os meses mais frios do ano, abrigando-se em tocas no solo, e quando emerge inicia a reposição energética e o período reprodutivo. O objetivo deste estudo foi avaliar o consumo de teiú por jaguatirica na Reserva Natural Vale (RNV; Linhares/ES). Foram analisadas amostras fecais coletadas entre julho de 2017 e junho de 2018, sendo a ingestão de teiú confirmada a partir da identificação de material não digerido. A frequência de ocorrência (FO%) nas amostras fecais foi calculada para todo o estudo e por mês de amostragem, a qual foi correlacionada com o sucesso de captura mensal do lagarto em armadilhas fotográficas (dados obtidos entre julho de 2016 e junho de 2017). Embora tenham sido considerados dados de períodos distintos, é esperado que o padrão de atividade mensal dos teiús não sofra alterações significativas entre anos. Das 242 amostras fecais analisadas, 57 continham vestígios de teiú (FO% total=23,6; FO% média=22,9 ± 19,3). O maior consumo foi registrado em fevereiro (FO%=53,3) e o menor em julho (FO%=3,1), considerando meses com registro. Apenas em junho não houve consumo de teiú. Os primeiros teiús foram registrados por armadilhas fotográficas em outubro (5,0% dos registros), com pico de atividade em janeiro (30,3%) e últimos indivíduos registrados em abril (1,7%). Houve forte relação positiva entre o sucesso de captura do teiú e a taxa de consumo mensal deste lagarto por jaguatirica (r=0,765; 12 pares; p=0,004). Ressalta-se que o consumo de teiú manteve-se durante quase todo o ano, mesmo nos meses de inatividade da espécie. Isso pode estar relacionado ao fato de alguns espécimes entrarem depois e saírem antes da hibernação ou à possibilidade das jaguatiricas buscarem ativamente essas presas nos abrigos. A primeira proposição não é corroborada pelos dados de armadilhamento fotográfico, tão pouco por outros trabalhos com esses répteis, os quais descrevem que a espécie permanece inativa entre maio e julho. Assim, a segunda proposição parece ser mais plausível, considerando o padrão de atividade mensal do teiú na RNV e a elevada taxa de consumo desta presa durante o período de estudo, que é maior do que em outras localidades (variação=1,6 a 14,0). Em estudo anteriormente realizado na RNV, a FO% foi de 16,8% (amostras coletadas entre 1995 e 2000), ressaltando que a densidade do teiú é semelhante à observada em outros locais. Com base na FO% registrada no presente estudo e no peso corporal do teiú (~45% do predador) considera-se que essa seja uma presa importante para jaguatiricas na RNV, podendo ter ocorrido o aperfeiçoamento do comportamento de busca ativa dos hibernáculos para captura de espécimes.
Palavras-chave
Comportamento, Ecologia trófica, Felidae, Forrageamento, Teiidae.
Financiamento
FAPES (Projeto 607/2015), FAPES-VALE (Projeto 510/2016) e UVV (Projeto M01-2017PI002)
Área
Ecologia
Autores
Gustavo Brito-Santos, Hilton Entringer Jr, Laysa Andrade, Joyce Gonçalves dos Santos, Ana Carolina Srbek-Araujo