Dados do Trabalho
TÍTULO
EFEITO DA ESTRUTURA DA PAISAGEM SOBRE O ATROPELAMENTO DE MAMIFEROS DE MEDIO E GRANDE PORTE NO SUL DE GOIAS, BRASIL
Resumo
As rodovias têm sido apontadas como uma das principais causas antrópicas que influenciam na mortalidade da fauna silvestre. Fatores intrínsecos (abundância, período de atividade e categoria de ameaça) e extrínsecos (variações temporais e espaciais) tem sido relacionados ao aumento nas taxas de atropelamentos. As características das paisagens que circundam as estradas também são fatores que afetam a taxa de atropelamentos. No entanto, poucos estudos testam hipoteticamente o efeito da estrutura da paisagem sobre a comunidade animal atropelada. Aqui, nós investigamos o efeito da estrutura da paisagem sobre a comunidade de mamíferos de médio e grande porte atropelados no sul de Goiás, Brasil. Nossa hipótese é de que a estrutura e composição de mamíferos atropelados seja influenciada pelas características da paisagem. Nós dividimos um trecho de 50 km da GO-164 em 10 quadrantes de 5 km² cada (unidades amostrais), nos quais medimos a abundância, riqueza e composição de mamíferos atropelados (entre outubro de 2011 a setembro de 2012) em resposta a dois preditores da paisagem: média das distâncias (de cada indivíduo ou espécie atropelada) para o curso-d’água mais próximo, e percentual de cobertura vegetal nativa na paisagem. Com um esforço de 3.600 km percorridos, nós registramos 61 mamíferos atropelados, distribuidos em 11 espécies: Cerdocyon thous (cachorro-do-mato, n = 21 indivíduos atropelados); Euphractus sexcinctus (tatu-peba, n = 15); Myrmecophaga tridactyla (tamanduá bandeira, n = 9); Nasua nasua (quati, n = 6); Dasypus novemcinctus (tatu-galinha, n = 3) e Coendou prehensilis (porco-espinho, n = 2). As espécies Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), Didelphis albiventris (gambá), Tapirus terrestris (anta), Sapajus libidinosus (macaco prego) e Hydrochoerus hydrochaeris (capivara) apresentaram apenas 1 indivíduo atropelado. As espécies mortas por atropelamentos no trecho de 50 km da GO-164 apresentam um amplo gradiente biológico, ecológico e comportamental. Nossos achados corroboraram nossa hipótese de que a estrutura e composição da fauna de mamíferos atropelada é explicada pela estrutura da paisagem. Mais especificamente a riqueza de mamíferos atropelados é maior, quanto menor a distância para o curso-d’água e a composição da mastofauna é influenciada pelo percentual de cobertura de vegetação nativa na paisagem, ou seja, algumas espécies foram atropeladas mais frequentemente em paisagem com pouco percentual e outras em locais com um alto percentual de cobertura nativa. Concluímos que diferentes métricas da paisagem afetam gradientes específicos da comunidade: 1) quanto menor a distância para o curso-d’água maior é o número de espécies atropeladas; 2) o gradiente de percentual de cobertura vegetal nativa determina a composição da mastofauna atropelada. Com isso, podemos destacar os trechos da GO-164 que necessitam de implantação de medidas mitigatórias que diminuiam os riscos de atropelamentos de animais silvestres no Brasil central.
Palavras-chave
distância para água, ecologia da paisagem, quantidade de habitat, número de espécies
Área
Ecologia
Autores
Wellington Hannibal, Larissa A. F. Araujo, Raoni R. G. F. Costa, Reile Ferreira Rossi, Hermes W. P. Claro