Dados do Trabalho
TÍTULO
ESTRELAS (DE)CADENTES: EFEITOS REGIONAIS E BIOGEOGRAFICOS DA DEFAUNAÇAO DE MAMIFEROS
Resumo
Mamíferos incorporam o apogeu da estruturação de comunidades e funcionamento dos ecossistemas, fornecendo uma série de serviços ecossistêmicos (ES). Objetivamos prever os efeitos da defaunação sobre 13 tipos de ES que são potencialmente fornecidos por mamíferos ao longo dos neotropicos e suas províncias. Ainda, objetivamos avaliar como a filogenia e a distância funcional entre as espécies influenciam e predizem os ES.Compilamos um conjunto de 2416 assembleias de médios e grandes mamíferos baseados nos polígonos de distribuição da IUCN e as agrupamos em 658 metacomunidades. Obtivemos os traços funcionais e filogenia das 267 espécies, e, baseados na literatura, atribuímos o provimento de ES de acordo com seus traços mutuamente não-exclusivos. A composição dos cenários de defaunação seguiu critérios de tamanho de corpo, nível trófico, home-range, e status de ameaça. Assim, randomizamos regimes de defaunação projetados para remover de dentro de cada metacomunidade de 15% a 100% das espécies de acordo com seus traços ou ameaças. Os dados foram analisados por meio de formalidade e métricas de redes, análise de dissimilaridade, alinhamento e correlação. A significância estatística das análises foi baseada em 1000 modelos nulos com distribuição aleatória dos dados entre o número empírico mínimo e máximo de ES. Sob defaunação, a perda de graus das redes (links) foi em média de 36%, sendo maiores no cenário projetado para remover espécies de acordo com níveis tróficos (>57%). A conectância reduziu em média 6,5%, enquanto que a modularidade e o aninhamento das redes aumentaram >20%. Os ES que apresentaram maior depleção (>37%) foram ecoturismo, controle de doenças, proteína animal para povos ameríndios, predação de sementes e formação de solo. As províncias mais penalizadas foram as que naturalmente já apresentavam riqueza reduzida (e.g. Puna, Atacama), tendo seus potenciais serviços reduzidos em >40%. A distância filogenética e a distância entre os traços das espécies se alinham em 76% e as ramificações são fortemente correlacionadas [0,53; p < 0,01]. O alinhamento entre traços e ES foi de 71% com correlação intermediária [0,39; p < 0,01], e o alinhamento entre filogenia e ES foi de 70% com forte correlação [0,51; p < 0,01]. Numa perspectiva metacomunitária, a perda ES pode ser uma dicotomia: padrões irreversíveis regionalmente ao mesmo tempo que assembleias mais diversas podem ter um efeito de resgate sob as assembleias adjacentes, fornecendo espécies localmente extintas. Entretanto, em todos os regimes de defaunação a perda de ES é >1/3 do observado. É importante alinhar filogenia e traços nesse tipo de estudos para entender melhor o funcionamento dos ecossistemas em escala regional e biogeográfica: a história evolutiva prediz a riqueza e o fenótipo das espécies, que por sua vez asseguram o provimento de ES. Concluímos que a defaunação gera perdas significativas nas funções do ecossistema e apresenta um alto custo socioambiental, erodindo processos que asseguram o bem-estar humano. A perda de ES é amortecida pela redundância funcional (semelhança) das espécies, mas pode ser irreversível a medida que a riqueza de espécies nas escalas regionais atinge valores <20 espécies, pois a redução dos ES é >50%.
Palavras-chave
redes ecológicas, serviços ecossistêmicos, regimes de defaunação, metacomunidades
Financiamento
FAPESP (JAB, bolsista de pós-doutorado processo n° 2018-05970-1), CNPq (KMF, processos n° 308503/2014-7 e 308632/2018-4)
Área
Biologia da Conservação
Autores
JULIANO ANDRÉ BOGONI, CARLOS A. PERES, KATIA M.P.M.B. FERRAZ