Dados do Trabalho
TÍTULO
ATIVAÇÃO DA RESPOSTA DE FASE AGUDA INDUZIDA POR LIPOPOLISSACARÍDEO EM MORCEGOS: OS EFEITOS DA DOSE E DA FASE CIRCADIANA DA INJEÇAO
Resumo
A análise do repertório de respostas imunes dos morcegos é fundamental para entendermos porque esta ordem hospeda a maior diversidade de agentes patogênicos dentre os mamíferos sem, contudo, apresentarem sinais claros de desenvolverem doenças transmitidas por estes agentes. Dentre os diversos aspectos imunológicos que poderiam responder por esta capacidade, destaca-se a resposta de fase aguda (RFA). A RFA ocorre imediatamente após a infecção por patógenos e resulta em uma reação sistêmica complexa caracterizada pela indução de febre, anorexia, sonolência, letargia, síntese de hormônios aumentada, leucocitose e produção de proteínas da fase aguda. Estas respostas tendem a acelerar o processo de eliminação dos patógenos e potencializar a ativação do sistema imune adaptativo. Evidências recentes indicam que a resposta imune de vertebrados pode seguir ciclos circadianos, e que a extensão das mudanças pode ser dependente da carga patogênica, aspectos raramente considerados nos estudos que quantificaram a RFA em morcegos. Neste trabalho nós utilizamos o morcego-de-cauda-curta (Carollia perspicillata) como animal modelo e avaliamos se a RFA segue um ritmo circadiano, e como a RFA é afetada pela carga patogênica. A RFA foi induzida nas fases ativa e de repouso por meio da inoculação de duas doses de lipopolissacarídeo (LPS - 5 mg LPS / kg-1 e 10 mg / kg-1), uma endotoxina não patogênica que imita uma infecção bacteriana. Nós medimos as mudanças na temperatura corporal, nos leucócitos (contagem total e razão neutrófilo / linfócito) e ingestão de alimentos após as injeções. A dose de LPS e o tempo de injeção não levaram a padrões diferentes na temperatura corporal conforme observado em um estudo anterior com aves. Após a dose de LPS (1 mg LPS / kg-1) a espécie Myotis vivesi apresentou aumento na temperatura corporal, entretanto a espécie Molossus molossus não apresentou o mesmo padrão. Não houve leucocitose após a injeção de LPS nas fases ativa e de repouso conforme trabalhos anteriores com C. perspicillata e Molossus molossus, entretanto foi observado leucocitose em Myotis vivesi. A relação N / L foi maior após a injeção de 10 mg / kg-1 na fase de repouso. O aumento da relação N / L é comumente utilizado como indicador de estresse, uma vez que a liberação de glicocorticoides por estresse causa neutrofilia e linfopenia. Apesar de causarem imunossupressão, os glicocorticoides também podem melhorar a função imunológica durante a RFA. Houve uma diminuição significativa da ingestão de alimentos na fase ativa após ambas as doses de LPS. A diminuição significativa da ingestão de alimentos parece ser o um ajuste comum em vertebrados mesmo quando administradas doses menores de patógenos. Aparentemente existe influência da fase circadiana e carga patogênica na RFA de C. perspicillata, entretanto, ocorre de forma irregular entre seus constituintes. O exame da RFA em outros morcegos sugere que o modo como os morcegos lidam com as infecções pode não ser uniforme.
Palavras-chave
Chiroptera, Sistema imune inato, LPS, Fase circadiana.
Financiamento
Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Processo FAPESP nº 2014/16320-7)
Área
Fisiologia
Autores
Matheus Fernandes Viola, Luis Gerardo Herrera Montalvo, Ariovaldo Pereira Cruz Neto