X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

O QUE OS OLHOS NAO VEEM: EFICIENCIA DO OBSERVADOR EM ENCONTRAR CARCAÇAS DE MORCEGOS EM UM PARQUE EOLICO NEOTROPICAL

Resumo

A mortalidade de morcegos por causa da instalação de parques eólicos tem sido documentada em vários países. Avaliações sobre a magnitude destas mortes dependem essencialmente de buscas periódicas por carcaças ao redor das turbinas eólicas. No entanto, raramente todas as carcaças presentes na área são detectadas pela equipe de busca, de modo que os estudos de impacto ambiental precisam quantificar e considerar o viés da eficiência do observador nas estimativas da fatalidade. Estudos deste tipo já são empregados em países da América do Norte e Europa, mas raramente ocorrem em países tropicais, onde a energia eólica experimenta um boom e frequentemente instala-se em áreas com alta riqueza de espécies. Neste estudo, investigamos diferentes fatores que influenciam a eficiência do observador em encontrar carcaças de morcegos em um complexo eólico em área de floresta tropical sazonalmente seca no nordeste do Brasil. Os experimentos de eficiência do observador foram realizados de março de 2017 a janeiro de 2018, por uma dupla de biólogos treinados que vistoriou mensalmente 34 aerogeradores. Nós testamos as hipóteses de que a eficiência do observador varia de acordo com o tipo de vegetação, estação do ano e tamanho da carcaça. No total, após 228 horas de testes envolvendo 120 carcaças, os observadores mostraram 58% de eficiência. Um modelo de regressão logística revelou que o tipo de vegetação e o tamanho da carcaça foram previsores significativos da probabilidade de uma carcaça ser encontrada, e que o tipo de vegetação apresentou o maior efeito previsor. A proporção de carcaças encontradas foi alta (85%) em estradas/pátios de brita com vegetação ausente ou esparsa, intermediária (63%) em áreas com vegetação herbácea, e baixa (38%) em áreas com alta densidade de arbustos. A eficiência do observador foi reduzida (40%) para morcegos pequenos (massa corporal < 15 g) em comparação a morcegos de tamanho médio (15‒25 g; 63%) e grande (> 25 g; 70%). Diferenças sazonais significativas na eficiência do observador foram observadas apenas para as áreas predominantemente arbustivas, onde os observadores conseguiram encontrar o dobro do número de carcaças na estação seca (50%) em relação à chuvosa (25%). Estes resultados reforçam a relação positiva entre eficiência do observador e condição de visibilidade do terreno, e fornecem evidência de que, pelo menos em certas condições, a estação pode afetar a probabilidade de encontrar carcaças. Além disso, demonstramos que mesmo diferenças sutis no tamanho podem afetar a eficiência do observador em encontrar carcaças de morcegos ao redor de aerogeradores, e que fatalidades de espécies pequenas, como muitos morcegos insetívoros neotropicais, apresentam menor probabilidade de serem registradas em avaliações de impacto. Nosso estudo enfatiza a importância de incluir testes e controle da eficiência do observador em estudos de impacto ambiental de parques eólicos em regiões tropicais com alta biodiversidade. O desenho experimental deve considerar a utilização de carcaças de diferentes tamanhos nos testes, bem como as diferentes variáveis ambientais que representem espacial e sazonalmente a área de estudo.

Palavras-chave

estudo de impacto ambiental; Brasil; Caatinga; Chiroptera; estimativa de fatalidade; energia eólica; energias renováveis; monitoramento de carcaças

Financiamento

Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE); Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBA/UFPE)

Área

Biologia da Conservação

Autores

Marília A. S. Barros, Aída Otálora-Ardila, Enrico Bernard