XX Congresso Brasileiro de Primatologia

Espécies de primatas que ocorrem no ES


O estado do Espírito Santo é conhecido pelo seu litoral e por suas belas praias, porém abriga uma grande diversidade em suas matas, sobretudo na região serrana, onde acontecerá o XX Congresso Brasileiro  de Primatologia, de 07 a 12 de julho de 2024. Ao todo, ocorrem naturalmente sete espécies de primatas no estado, dentre as quais seis são possíveis de serem observadas em Santa Teresa, principalmente na REBio Augusto Ruschi, a dez quilômetros da cidade. A seguir, abordaremos brevemente cada uma das espécies e onde podem ser encontradas.


Bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans).
Foto: Orlando Vital.

Bugio

No estado do Espírito Santo ocorrem as duas subespécies de Alouatta guariba, o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) e o bugio-marrom (Alouatta guariba guariba). As duas subespécies são endêmicas da Mata Atlântica, onde o bugio ruivo apresenta uma ampla distribuição, ocorrendo no bioma do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, tendo como limite norte a margem sul do Rio Doce. Já  o bugio marrom ocorre a partir da margem norte do rio, se estendendo até o Rio Jequitinhonha, no sul da Bahia. O táxon sofreu um grande decréscimo populacional devido ao processo histórico de fragmentação da Mata Atlântica, caça e recentemente devido aos surtos de febre amarela que dizimaram suas populações principalmente na região serrana do Espírito Santo e leste de Minas Gerais. Devido principalmente à severidade das epidemias recentes, o táxon foi classificado como uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do planeta. Em Santa Teresa é possível observar o bugio-ruivo, sendo encontrado na Reserva Biológica Augusto Ruschi, a 10 quilômetros do centro de Santa Teresa e possivelmente, nos fragmentos ao redor da cidade.


Macaco-prego-preto (Sapajus nigritus).
Foto: Orlando Vital.

Macaco-prego-preto

O macaco-prego-preto possui uma distribuição similar ao bugio-ruivo, ocorrendo por toda Mata Atlântica ao sul do Rio Doce, sendo substituído ao norte pelo Macaco-prego-de-crista (Sapajus robustus). A espécie vive em grupos que variam entre 8 a 35 indivíduos e possuem uma grande plasticidade ambiental, podendo ser vistos nas áreas urbanas de algumas cidades. A espécie atualmente é classificada como “Quase ameaçada” (NT) e possui como principais ameaças o desmatamento da Mata Atlântica e seu uso como animal de estimação. Tal prática resulta na retirada desses animais da natureza e estimula o contato de pessoas com grupos não habituados, o que pode gerar transmissão de doenças, dentre outros problemas. Em Santa Teresa a espécie pode ser observada na Rebio Augusto Ruschi, a dez quilômetros do centro da cidade.


Macaco-prego-de-crista (Sapajus robustus).
Foto: Marco Almeida.

Macaco-prego-de-crista

O macaco-prego-de-crista (Sapajus robustus) é endêmico da Mata Atlântica, ocorrendo nos estados da Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais, sendo limitado pelo Rio Doce ao sul e pelo Rio Jequitinhonha ao norte. A espécie é bem reconhecida pelo seu topete convergente, formando uma espécie de ‘moicano’. A espécie está atualmente listada como “Em Perigo” (EN) e tem como principais ameaças o desmatamento, caça e apanha para alimentar o tráfico de animais silvestres destinados como animais de estimação. A espécie não ocorre em Santa Teresa, que está ao sul do Rio Doce, área de distribuição do S. nigritus. Porém a espécie pode ser visualizada na REBio de Sooretama, a 190 quilômetros de Santa Teresa.


Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Foto: Carla B. Possamai/Projeto Muriqui de Caratinga.

Muriqui-do-norte

O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) é o maior primata das Américas, chegando a 1,3 metros e a 9 quilos na fase adulta, vivendo em grupos numerosos que ultrapassam 50 indivíduos. São endêmicos da Mata Atlântica e ocorrem na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerias e Rio de Janeiro. Listada como em Criticamente em Perigo (CR), apresentam uma tendência de declínio populacional devido principalmente ao processo de fragmentação da Mata Atlântica e a caça. Atualmente estão restritos a poucas subpopulações espalhadas pelos estados onde ainda ocorre, com uma população total estimada em cerca de 1000 indivíduos. A espécie pode ser encontrada na Reserva Biológica Augusto Ruschi, a 10 quilômetros do centro de Santa Teresa.


Sagui-da-cara-branca (Callithrix geoffroyi).
Foto: Orlando Vital.

Sagui-da-cara-branca

O sagui-da-cara-branca (Callithrix geoffroyi) é uma das duas espécies de sagui que naturalmente ocorrem no Espírito Santo, junto com o sagui-da-serra (Callithrix flaviceps). Na região serrana do estado, as duas espécies possuem uma distribuição que é definida pela altitude, com o sagui-da-cara-branca ocorrendo abaixo dos 700 metros e o sagui-da-serra acima. Endêmica da Mata Atlântica, a espécie ocorre em toda a faixa litorânea do Espírito Santo chegando ao extremo sul da Bahia e avançando até Minas Gerais a partir da margem norte do Rio Doce. A espécie não é considerada ameaçada e possui uma grande plasticidade ambiental, sendo encontrada facilmente em áreas verdes das grandes cidades onde ocorre, como na região metropolitana de Vitória. São consideradas ameaças à espécie sua utilização como animais de estimação e a fragmentação da Mata Atlântica. Em Santa Teresa a espécie pode ser encontrada em fragmentos da região, sobretudo em regiões de baixa altitude antes de chegar à cidade vindo de Vitória ou depois, descendo a serra em direção a Colatina.


Sagui-da-serra (Callithrix flaviceps).
Foto: Sarisha Trindade.

Sagui-da-serra

O Sagui-da-serra (Callithrix flaviceps) é uma espécie de sagui endêmica da Mata Atlântica que possui uma das menores extensões de ocorrência dentre os primatas neotropicais, ocorrendo apenas na região serrana do Espírito Santo e no leste mineiro. No Espírito Santo, a espécie apresenta uma distribuição fortemente delimitada pela altitude, estando presente acima dos 700 metros de altitude, sendo substituída pelo C. geoffroyi na região costeira e margem norte do Rio Doce. A espécie apresenta comportamento críptico e é difícil de ser visualizada, ocorrendo em grupos que variam entre 6 a 15 indivíduos. Considerando as ameaças que comprometem as populações da espécie, como o desmatamento, a invasão de espécies de saguis alóctones (C. jacchus e C. penicillata) e os recentes surtos de febre amarela, a espécie foi categorizada como uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do planeta, uma vez que todos estes problemas ecológicos são potencializados pela sua distribuição restrita. A espécie pode ser observada na Reserva Biológica Augusto Ruschi, a 10 quilômetros do centro de Santa Teresa e em fragmentos próximos da cidade.


Indivíduos híbridos de saguis (Callithrix sp.).
Foto: Orlando Vital.

Saguis híbridos

No estado do Espírito Santo há registros da hibridação natural entre Callithrix flaviceps e C. geoffroyi  dada a permeabilidade do limite de distribuição entre ambas; e temos a hibridação gerada pela introdução de espécies invasoras (C. jacchus e C. penicillata). A hibridação natural não se configura como um problema ecológico sendo um processo natural que ocorre em áreas de contato entre as espécies do gênero. Diferentemente da hibridação por espécies invasoras, onde as formas híbridas além dos indivíduos invasores competem e se reproduzem com a espécie nativa, reduzindo e isolando suas populações a médio e longo prazo. Em Santa Teresa, indivíduos híbridos entre C. flaviceps e C. geoffroyi  podem ser observados tanto nas dependências do INMA, quanto na REBIO Augusto Ruschi e em fragmentos ao redor da cidade.


Sauá-da-cara-preta (Callicebus personatus).
Foto: Mariana Kaizer.

Sauá-da-cara-preta

O sauá-da-cara-preta (Callicebus personatus) é mais uma espécie de primata endêmica da Mata Atlântica que ocorre no estado do Espírito Santo e leste mineiro. É uma espécie rara, pouco estudada e de difícil visualização devido ao fato de viver em grupos pouco numerosos (até 6 indivíduos) e pelo seu comportamento elusivo. Atualmente a espécie é listada como Vulnerável (Vu), devido à fragmentação da Mata Atlântica reduzindo e isolando suas populações. A espécie pode ser encontrada nas dependências do INMA no centro da cidade e na Reserva Biológica Augusto Ruschi, a 10 quilômetros do centro de Santa Teresa.