Dados do Trabalho
Título
Influência de fatores ambientais e socioecológicos nas distâncias percorridas por bugios-ruivos [Alouatta guariba clamitans] em uma floresta contínua
Corpo do texto
O comprimento do percurso diário (Daily Path Length, DPL) é frequentemente utilizado como um indicador do uso do espaço em primatas. Além do tamanho do grupo e da disponibilidade de recursos, novas abordagens reconhecem a influência de fatores ambientais, interações entre grupos e com outras espécies de primatas na determinação do DPL. Dado que os bugios [Alouatta] são um bom modelo para estudar essas relações, avaliamos como variáveis ambientais e socioecológicas influenciam o DPL no bugios-ruivos [Alouatta guariba clamitans] no Parque Estadual Carlos Botelho. Essa área é um dos poucos remanescentes grandes, contínuos e protegidos da mata atlântica, onde bugios-ruivos coexistem com populações simpátricas de macacos-prego [Sapajus nigritus] e muriquis-do-sul [Brachyteles arachnoides]. Acompanhamos um grupo de bugios-ruivos durante 6 meses (de agosto 2023 a janeiro 2024; 344 horas) registrando dados ecológicos e comportamentais. Utilizamos uma modelagem de caminho de mínimos quadrados parciais (PLS) para avaliar os efeitos da temperatura, duração do dia, tempo de atividade diário, tempo gasto em descanso, porcentagem de frugivoria na dieta e encontros com heteroespecíficos e conespecíficos no DPL. O modelo explicou 72,30% da variação do comprimento do percurso diário, indicando que bugios-ruivos percorreram maiores distâncias em dias com menor tempo dedicado ao descanso e mais encontros com muriquis-do-sul e macacos-prego. A porcentagem de frugivoria, encontros com conespecíficos e tempo de atividade diário não influenciaram o DPL. Os encontros com espécies simpátricas geralmente resultam em competição por recursos, que implicam desafios adicionais de compensação de energia, especialmente para os perdedores. Registramos que a maioria dos encontros com heteroespecíficos resultaram em mudanças de comportamento, perseguição e deslocamentos dos bugios-ruivos das árvores de alimentação e descanso. Nossos resultados sugerem que macacos-prego e muriquis-do-sul desempenham um papel dominante nas interações com os bugios-ruivos, influenciando o comportamento e o uso do espaço pelo grupo avaliado.
Financiadores
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP 2021/06668-0) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Palavras-chave
Interações interespecíficas; competição; ecologia.
Área
Ecologia
Autores
Erika Alejandra Chaves-Diaz, Adriano Paglia, Laurence Culot