A especialização em psico-oncologia e suas repercussões na Psicologia hospitalar.
O câncer é o nome genérico para mais de cem doenças diferentes que têm em comum o crescimento desordenado de células cuja característica é a invasão de órgãos e tecidos. De causas múltiplas, sabemos hoje que está bastante ligado ao estilo de vida moderno, às suas condições econômicas, sociais, psicológicas, espirituais e ambientais. Embora a susceptibilidade genética possa ter papel importante, é a interação entre estes fatores e as condições resultantes do modo de vida e do ambiente que determina o risco de adoecimento por câncer. É inquestionável que o adoecimento por câncer é um problema de saúde pública, em especial nos países em desenvolvimento. Segundo dados da Estimativa 2016: Incidência de Câncer no Brasil, publicação do INCA, para as próximas décadas é esperado que o impacto do câncer na população corresponda a 80% dos mais de 20 milhões de casos novos estimados para 2025. Com várias causas, história e formas diferentes de tratamento, constitui uma fonte de estresse, capaz de desencadear desordens de ajustamento nos indivíduos afetados. Mesmo que atualmente com o desenvolvimento da medicina no que se refere ao entendimento das enfermidades oncológicas, bem como com a descoberta de tratamentos novos ocorram muitos casos de cura, o câncer ainda traz consigo a idéia de morte. O medo de mutilações e a desfiguração, dos tratamentos dolorosos e invasivos, das muitas perdas provocadas pela doença conduz a uma situação de sofrimento que leva a uma problemática psíquica com características específicas. O diagnóstico de um câncer afeta a todos os envolvidos: paciente, família e profissionais de saúde. Desta maneira, não podemos mais entender o tratamento de câncer sem a inserção dos mais diferentes profissionais de saúde. Até mesmo antes do adoecimento, na prevenção da saúde, a ação de profissionais de saúde e também educadores com uma formação mais ampla se faz fundamental. Consideramos que a abordagem e acompanhamento desses envolvidos precisa ser feita por profissionais da psicologia que conheçam e entendam as especificidades que só câncer apresenta, como uma doença ainda bastante estigmatizada, cujo diagnóstico equivale a uma sentença de morte. Da mesma maneira, o tratamento, bastante invasivo, também é motivo de sofrimento intenso. Há uma mudança drástica na rotina da vida. Os afazeres diários são substituídos pelas idas constantes ao hospital, ambiente de frequentes internações. Os processos emocionais desencadeados nestes pacientes e familiares exigem um profissional especializado, o que leva à especificidade da Psico-oncologia. Diante disso, a proposta desse simpósio é contemplar as especificidades da Psico-oncologia, ciência responsável pela abordagem aos aspectos psicossociais e espirituais no adoecimento por câncer.
Carolina Seabra - Introdução à Psico-oncologia
O diagnóstico oncológico carrega o estigma de doença dolorosa e mortal, na qual o paciente comumente vivencia perdas e sintomas adversos ao longo do tratamento, ocasionando prejuízos na sua funcionalidade, ocupação e dúvidas sobre o seu futuro.
Diante deste sofrimento advindo a partir do diagnóstico, o psicólogo buscará a prevenção e redução dos sintomas socioemocionais, comportamentais e físicos causados pela doença e seus tratamentos, levar o paciente a compreender o significado da experiência do adoecer, possibilitando assim ressignificação desse processo. Além do atendimento ao paciente o profissional deve incluir a família no atendimento dado seu papel fundamental de suporte para o enfrentamento da doença. O psicólogo especializado na atuação em oncologia denomina-se psico-oncologista e ultrapassa os limites do consultório e da prática clínica, indo ao encontro do paciente onde quer que ele se encontre (sala de espera do hospital, na enfermaria, na sala de procedimentos invasivos, em casa, ou em qualquer outro local), bem como incluindo a participação ativa de diferentes profissionais. A Psico-oncologia deve ser entendida como um instrumento que viabiliza atividades interdisciplinares no campo da saúde, desde a pesquisa científica básica até os programas de intervenção clínica. O objetivo desta fala é apresentar os pressupostos da especialidade e sua modalidades de atuação.
Autor2: Marília Aguiar
Título da Fala: Formação em Psico-oncologia (EaD)
A proposta de especialização em Psico-oncologia surge diante da necessidade de sistematizar conhecimentos que fornecem subsídios à assistência integral do paciente oncológico e sua família, bem como a formação dos profissionais de saúde envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação, a fase terminal da doença e o acompanhamento da família após a morte do doente. O objetivo da especialização é capacitar profissionais graduados em cursos da área da saúde, para a atuação profissional de assistência humanizada à pessoa portadora de câncer, apresentando temas de relevância. Contribui para a qualidade dos cuidados, indo desde o trabalho preventivo até a impossibilidade terapêutica. A modalidade de educação à distância (EaD) possibilita que os psicólogos possam ter formação de qualidade a fim de atuar na área da Oncologia, além do compartilhamento de experiências, evidenciando os aspectos comuns e também com as particularidades de cada região do nosso país. Pretendemos mostrar a efetividade dessa proposta, que já formou um significativo número de psicólogos. A grade curricular está montada de maneira a dar uma visão ampla, com conceitos básicos de oncologia, técnicas de intervenção, psico-oncologia pediátrica, espiritualidade, cuidados paliativos, terminalidade, luto, bioética, atenção especial ao cuidador, tanto o profissional quanto o familiar. Os conteúdos dão os subsídios necessários para as 120 horas de prática que os alunos precisam completar (estágio supervisionado), oferecendo prontidão para o mercado de trabalho.
Nome do Autor 3: Glaucia Tavares
Título da Fala: Aplicações práticas
É inegável o valor do psico-oncologista no ambiente hospitalar. A presença do profissional com conhecimento e sensibilidade traz contribuições significativas na acolhida, escuta e acompanhamento diante do contexto do câncer, favorecendo a assistência integral e humanizada do paciente oncológico, sua família e a equipe assistente. A atuação profissional inclui a prevenção, o tratamento e a reabilitação. Lida-se também com a possibilidade do contexto da fase terminal da doença, trabalhando o luto antecipatório, de todo o conjunto de pessoas envolvidas, além de cuidar do pós morte do doente. Este profissional desenvolve recursos para intervir desde a prevenção, a possibilidade da iminência e da morte e da sua elaboração. A Psico-oncologia se ocupa dos aspectos psicossociais, relacionais e espirituais do paciente que tem ou teve câncer, da sua família e da equipe assistente. Estudos oriundos da pesquisa nesta área são relevantes na compreensão das variáveis psicológicas e sociais na incidência, recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer. Outros estudos se referem à organização de serviços oncológicos que visem ao atendimento integral do paciente, enfatizando de modo especial a formação e o aprimoramento dos profissionais da saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamento.
5. Novas Tecnologias, Gestão e Formação em Psicologia Hospitalar e da Saúde - 5.1 Pós-graduação Lato e Stricto Senso
Instituto de Terapia Cognitiva em Psicologia da Saíde - Rio Grande do Sul - Brasil
Carolina Ribeiro Seabra, Marilia Aguiar, Glaucia Tavares