O MÉDICO, A MORTE E A SUA PERCEPÇÃO DO PROFISSIONAL PSICÓLOGO EM CUIDADOS PALIATIVOS.
“Mesmo quando não se pode curar, sempre é possível cuidar”.O objetivo desta pesquisa foi analisar a concepção do médico sobre a participação do psicólogo e a própria vivência em Cuidados Paliativos. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa de perspectiva hermenêutica com a formatação de estudo de caso. O estudo de caso A foi realizado com o sujeito do sexo masculino, agnóstico, formado há trinta anos, que trabalha em Oncologia e encaminha pacientes para Cuidados Paliativos. O estudo de caso B foi realizado com um sujeito do sexo feminino, espírita, formada há mais de dez anos e especializada em Cuidados Paliativos. Elaborou-se um roteiro de entrevista para este estudo com nove questões. Os discursos foram analisados segundo a “Análise Textual Discursiva”. Entre os resultados encontrou-se que os dois participantes atuam em hospitais que oferecem cuidados paliativos. O sujeito A não participa diretamente, mas encaminha os pacientes e B trabalha diretamente. Em relação à abrangência dos cuidados paliativos, ambos apontaram primariamente a dor enquanto que A destacou o atendimento a diferentes patologias e não apenas a pacientes terminais, B incluiu familiares e o controle de sintomas. Sobre bad news, A segue protocolo, se diz franco e mais ou menos direto, enquanto que B afirma respeitar a subjetividade do paciente e aponta desafios gerados pelas dificuldades dos familiares. Em relação à necessidade do psicólogo, A reconhece e indica para o paciente e família, B diz ser “essencial” e se submete a acompanhamento psicológico. Quanto às estratégias de copping profissional, A mantém distanciamento profissional, não se envolve e B afirma ser acompanhada por psicólogo, destaca sua prática de lazer e administra a carga de trabalho. A não faz acompanhamento psicológico e B sim, porém, A supõe que lá na equipe de cuidados paliativos, o psicólogo cuide dos demais profissionais. Nos dois estudos de caso se valoriza a presença do psicólogo, mas em relação ao papel do psicólogo e mesmo da dimensão psicológica parece que a formação especializada em cuidados paliativos faz a diferença. Pode-se hipotetizar nos discursos de A a presença do mecanismo de “desejabilidade social”. Conclui-se que os médicos participantes do estudo valorizam a presença do psicólogo dentro dos Cuidados Paliativos, sendo que para o participante A o trabalho é restrito ao paciente e familiares, enquanto que na perspectiva de B o próprio profissional pode receber acompanhamento psicológico, e os dois afirmaram não ter recebido formação em Cuidados Paliativos em sua graduação no curso de Medicina. As lacunas da formação em cuidados paliativos podem representar um campo de trabalho para os psicólogos, seja na formação inicial, na formação continuada ou em procedimentos de assessoria e consultoria.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Cloves Antonio Amissis Amorim, Sofia Manosso Cartaxo, Christiane Gonçalves Coelho Intrieri, João Gustavo Farias Ribeiro