Possibilidades de atuação do psicólogo hospitalar no cuidado à família do paciente em morte encefálica
Introdução: Em 2001, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) assumia o gerenciamento do processo de captação, retirada e encaminhamento de órgãos para transplante do Hospital Santa Cruz (HSC).
O profissional da psicologia integra a equipe multiprofissional que compõe a comissão e entre os seus objetivos de trabalho está prestar atendimento humanizado e uma escuta ativa a família do paciente, desde a identificação do potencial doador até a possibilidade de doação dos órgãos, independente da decisão. Objetivos: Este estudo busca explorar, através da experiência do psicólogo hospitalar, as possibilidades de intervenção do profissional junto à família do potencial doador. Metodologia: A partir da observação participante foi proposta uma reflexão que norteia a atuação da psicologia durante o Protocolo de Notificação de Morte Encefálica (ME). Resultados: O primeiro contato da psicologia com a família pode ocorrer a partir da admissão do paciente através da Emergência ou pela Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI Adulto), após solicitação da equipe, por entender que o mesmo já apresenta critérios para abertura do protocolo de ME. Nessa etapa, a psicologia estabelece uma relação de ajuda ainda na sala de espera da UTI Adulto, devendo estar atenta a necessidade de oferecer um espaço mais calmo e aconchegante para expressão dos sentimentos e dúvidas provocados pela hospitalização. Na comunicação do diagnóstico, mantém-se atento a compreensão da família sobre o conceito de ME, observando as manifestações emocionais, bem como se dispõe a orientar e apoiar outros familiares que não se fizeram presentes, como é o caso de pais idosos e crianças. A identificação dos líderes positivos ou negativos que poderão vir a decidir ou não pela doação, são elementos fundamentais a serem repassados para os membros da CIHDOTT que conduzirão a entrevista familiar. A psicologia fica à disposição de todas as famílias pelo tempo que necessitarem. No pós-doação algumas iniciativas tem sido priorizadas, como por exemplo, o envio de uma carta de sensibilização a perda após quinze dias da captação, contatos telefônicos, visita domiciliar e encaminhamento para psicoterapia, conforme necessidade. Discussão dos resultados: Entende-se que a causa da internação do paciente em ME é inesperada, o que conduz a família a uma situação de crise. Faz-se necessário estabelecer um vínculo afetivo e de confiança com todas as pessoas de relação do potencial doador. É importante que o psicólogo abra espaços para a família estar mais próxima ao paciente, permitindo que muitos realizem rituais de despedida que contribuirão para elaboração do luto. Sabe-se que enquanto não houver a confirmação do diagnóstico, é inadmissível falar sobre doação com a família. Conclusões: O psicólogo deve estar capacitado para tal processo, mostrando-se acessível às angústias e ao sofrimento da família, aceitando suas decisões. O profissional auxilia no resgate aos bons momentos vividos, amenizando os ressentimentos e ressignificando os vínculos afetivos. Conclui-se que trabalhar na CIHDOTT, vai muito além de aumentar o número de doações, é uma missão divina que possibilita salvar vidas ou melhorar a qualidade de vida daqueles que aguardam por um transplante.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Hospital Santa Cruz - Rio Grande do Sul - Brasil
Aline Badch Rosa, Carolina Schunke de Almeida, Graziela Rodrigues Lucas, Luiza Franco Dias, Paola Ribeiro Amaro da Silveira, Daiane Carine Klein, Rayssa Feldmann