O brincar como mediador nas práticas de psicologia hospitalar em uma enfermaria pediátrica
A hospitalização acarreta mudanças em todas as dimensões da vida da criança, pois a mesma fica distante do ambiente familiar e social, passando a viver com estranhos em um local não-acolhedor e que oferece poucas possibilidades para o desenvolvimento de atividades típicas da infância, somado a isso, ela é subordinada a diversas intervenções desconfortáveis e dolorosas. A criança hospitalizada pode manifestar estresse, sentimentos como medo, culpa, sensações de abandono e punição, o que pode ocasionar não-adesão ao tratamento. Todos esses desdobramentos emocionais influenciam negativamente o processo de tratamento médico e diante dessa conjuntura a Brinquedoteca surge como um recurso de cuidado que atende as necessidades subjetivas da criança. Reconhecida a sua importância, foi promulgada a Lei n° 11.104/2005 que estabeleceu a obrigatoriedade de Brinquedotecas à todas as unidades de saúde que oferecem atendimentos pediátricos. No campo da Psicologia o brincar é considerado como um elemento fundamental na estruturação do desenvolvimento cognitivo, emocional e social, pois influencia no aperfeiçoamento de diversas habilidades como a atenção, concentração, afetividade, cognição, entre outros fatores. Além disso, é concebido como um dispositivo terapêutico já que consiste no principal meio das crianças expressarem seus sentimentos, e assim, elaborar as angústias vivenciadas. No contexto assisense, a brinquedoteca se fez presente desde 2001 por meio do projeto “Brinquedoteca Móvel”. A atuação dos estudantes de Psicologia na brinquedoteca tem por objetivo auxiliar a criança hospitalizada a elaborar suas angústias decorrentes do adoecimento e da hospitalização. Esse trabalho é desenvolvido por estudantes do 5°ano de Psicologia que realizam em duplas, durante cinco períodos da semana, intervenções lúdicas na Pediatria de um hospital do município de Assis. No espaço da brinquedoteca os estudantes utilizam recursos como brinquedos, contação de histórias, desenhos, músicas e em alguns casos, materiais usados pela enfermagem, a fim de possibilitar uma melhor forma de comunicação das crianças e expressão de conteúdos internos. Alguns pacientes, devido a sua condição, não conseguem usufruir do espaço da Brinquedoteca, nesses casos, os estudantes levam o material lúdico ao leito por meio da Brinquedoteca Móvel. Somado a isso, a prática é constantemente atravessada pelo diálogo entre estagiários-criança-família, com intenção de acolher, informar e orientar. Baseados nos dezessete anos de execução do projeto, atendendendo em média anual 250 crianças na faixa etária de 1 a 12 anos, podemos afirmar que ter um espaço lúdico no contexto hospitalar é importante pois possibilita às crianças transferirem aos brinquedos as suas fantasias, ansiedades e medos suscitados pela situação de internação, minimizando os elementos dificultadores do percurso do tratamento e recuperação. Encontramos na prática a necessidade de trabalhar concomitantemente com as famílias e proporcionar acolhimento para fortalecê-los e auxiliá-los a exercer as suas funções. Isto posto, é notório que o brincar representa um importante dispositivo de cuidado às crianças hospitalizadas, pois está incluso na noção ampliada de saúde que orienta as práticas de atendimento integral no processo saúde-doença.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.1 Atenção Integral à Criança e ao Adolescente no Contexto de Saúde e Doença
Unesp - São Paulo - Brasil
Alícia Curado da Silva, Rita Maria de Oliveira Gomes, Jorge Luis Ferreira Abrão, Gisele Gonçalves Melles de Oliveira, Juliana Medeiros de Almeida