11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

Câncer parental: uma reflexão sobre a experiência materna

Resumo

Quando o adoecimento por câncer ocorre em um genitor, ele se acrescenta aos desafios cotidianos da vida familiar, o que pode ser difícil para os pais que enfrentam o tratamento enquanto tentam suprir as necessidades de crianças/adolescentes. Mais especificamente para as mulheres, também estão presentes expectativas culturais de que sejam as principais responsáveis pelos cuidados dos filhos e da casa. Durante a formação em um programa de residência multiprofissional de um centro de oncologia em São Paulo-SP, esse cenário suscitou a realização do presente trabalho, cujo objetivo foi a reflexão sobre os aspectos envolvidos na vivência de pais diante do adoecimento por câncer, com foco na experiência materna. Para tanto, foi feita uma revisão teórica e apresentação de três vinhetas clínicas, como forma de ilustrar e discutir os temas encontrados e a experiência de atendimento psicológico. Constatou-se por meio da revisão teórica que nessa vivência estão presentes sentimento de culpa pela impossibilidade de realização dos cuidados dos filhos da forma esperada; medo de morrer e deixá-los; e a priorização da sua proteção. São empregadas estratégias de enfrentamento como a repressão de sentimentos negativos, manutenção da rotina, visão positiva acerca da situação e busca de apoio social. A comunicação do diagnóstico para os filhos surge como uma dificuldade, se dando por meio do fornecimento e/ou retenção de informações por parte dos pais. Também ocorrem mudanças positivas, como o surgimento de novos valores, maior proximidade dos filhos e valorização do tempo passado junto com eles. As mães tendem a se preocupar em continuar realizando as tarefas do cotidiano, consideradas como responsabilidades maternas, depositando altas cobranças em si mesmas a despeito de suas limitações físicas. No exame da maternidade enquanto fenômeno psicossocial é possível constatar que historicamente ocorreu a idealização do papel materno. Apensar das mudanças ocorridas ao longo do tempo, ele ainda permanece como importante característica da identidade da mulher, que atualmente busca dar conta de múltiplas exigências muitas vezes conflitantes, especialmente no contexto de adoecimento. As vinhetas clínicas evidenciaram o surgimento do câncer como uma interrupção na vida cotidiana das pacientes, afetando o desempenho do papel materno. O enfrentamento do câncer para as pacientes perpassou questões como a preocupação com os filhos, comunicação com eles, tentativa de protegê-los, sofrimento pela limitação das atividades cotidianas, desejo de manter a rotina e sentimento de culpa em demonstrar cansaço com tratamento. Conclui-se que a oferta do serviço de psicologia foi importante para que essas questões pudessem ser acolhidas e trabalhadas, sendo a consideração de aspectos culturais, sociais e subjetivos na vivência das mães de crianças/adolescentes que enfrentam o câncer fundamental para sua melhor compreensão. Sugere-se que a equipe de saúde como um todo possa estar atenta as dificuldades das pacientes com questões relacionadas ao papel materno, acolhendo-as e encaminhando-as para acompanhamento psicológico quando necessário.

Referências Bibliográficas

Arès I, Lebel S, Bielajew C. The impact of motherhood on perceived stress, illness intrusiveness and fear of cancer recurrence in young breast cancer survivors over time. Psychology & Health 2014; 29:651-70.

Asbury N, Lalayiannis L, Walshe A. How do I tell the children? Women’s experiences of sharing information about breast cancer diagnosis and treatment. EurJ Oncol Nurs 2014; 18:564-70.

Badinter R. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

Barnes J, Kroll L, Burke O, Lee J, Jones A, Stein A. Qualitative interview study of communication between parents and children about maternal breast cancer. BMJ 2000; 321: 479-82.

Billhut A, Segesten K. Strength of motherhood: nonrecurrent breast cancer as experienced by mothers with dependent children. Scand J Caring Sci 2003; 17:122-28.

Bultmann JC, Beierlein V, Romer G, Moller B, Koch U, Bergelt C. Parental cancer: Health-related quality of life and current psychosocial support needs of cancer survivors and their children. Int J Cancer 2014; 135: 2668-677.

Campbell-Enns HJ, Woodgate RL. Decision making for mothers with cancer: Maintaining the mother-child bond. Eur J Oncol Nurs 2013; 17:261-68.

Castro EK, Job C. Câncer na mãe e o impacto psicológico no comportamento de seus filhos pequenos. Gerais Rev Interinst Psicol 2010; 3:136-48.

Castro EK, Salvador C, Meneghetti BM, Chem C. Qualidade de vida, bem-estar psicológico e autoeficácia em mulheres jovens com câncer de mama. R. Interam Psicol 2011; 45:97-106.

Chodorow N. Psicanálise da maternidade: uma crítica a Freud a partir da mulher. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos; 2002.

Elmberger E, Bolund C, Lutzén K. Experience of dealing with moral responsibility as a mother with cancer. Nurs Ethics 2005; 12:253-62.

Ernst JC, Beierlein V, Romer G, Moller B, Koch U, Bergelt C. Use and need for psychosocial support in cancer patients: a population-based semple of patients with minor children. Cancer 2013; 119:2333-341.

Freud S. Sexualidade feminina. In: Freud S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud V. XXI. Rio de Janeiro: Imago; 1996. p.239-57. (Trabalho original publicado em 1931).

Freud S. Conferência XXXIII: Feminilidade. In: Freud S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud V. XXII. Rio de Janeiro: Imago; 1996. p.121-43. (Trabalho original publicado em 1933).

Gazendam-Donofrio SM, Hoekstra HJ, van der Graaf WTA, et al. Quality of life of parents with children living at home: when one parent has cancer. Support Care Cancer 2008; 16:133-41.

Gradvohl SMO, Osis MJD, Makuch MY. Maternidade e formas de maternagem desde a idade média à atualidade. Pensando Famílias 2014; 18:55-62.

Helseth S, Ulfsaet N. Parenting experiences during cancer. JAdv Nurs 2005; 52:38-46.

Junqueira MFA. Parentalidade contemporânea: encontros e desencontros. Primórdios 2014; 3:33-44.

Kim S, Ko YH, Jun EY. The impact of breast cancer on mother-child relationships in Korea. Psycho-Oncology 2012; 21: 640-46.

Kissil K, Niño A, Ingram M, Davey M. “I Knew From Day One That I’m Either Gonna Fight This Thing or Be Defeated”: African American Parent’s experiences of coping with breast cancer. J Family Nurs 2014; 20:98-119.

Kovács MJ. A morte em vida. In Franco MHP, Kovács MJ, Carvalho MMMJ, Carvalho VA, editores. Vida e morte: laços da existência. 2ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2011. p.11-33.

Labaki MEP. Ter filhos é o mesmo que ser mãe? J Psicanálise 2007; 40:75-87.

Mackenzie CR. ‘It is hard for mums to put themselves first’: How mothers diagnosed with breast cancer manage the sociological boundaries between paid work, family and caring for the self. Social Science & Medicine 2014; 117:96-106.

Matos MGM, Magalhães AS. Tornar-se pais: sobre a expectativa de jovens adultos. Pensando Famílias 2014; 18:78-91.

Mazzotti E, Serrano F, Sebastiani C, Marchetti P. Mother-child relationship as perceived by breast cancer women. Psychology 2012; 3:1027-34.

Menezes NNT, Schulz VL, Peres RS. Impacto psicológico do câncer de mama: um estudo a partir dos relatos de pacientes em um grupo de apoio. Estudos de Psicologia 2011; 17:233-40.

Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer (INCA). ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2011.

Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa/2014: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2014.

Moura SMSR, Araujo MF. A maternidade na história e a história dos cuidados maternos. Psicologia Ciência e Profissão 2004; 24:44-55.

Peçanha DLN. Câncer: recursos de enfrentamento na trajetória da doença. In: Carvalho VA, Franco MHP, Kovács MJ, Liberato RP, Macieira RC, Veit MT, et al. organizadores. Temas em psico-oncologia. São Paulo: Summus; 2008. p.209-17.

Rossi L, Santos MA. Repercussões psicológicas do adoecimento e tratamento em mulheres acometidas pelo câncer de mama. Psicologia Ciência e Profissão 2003; 23:32-41.

Rocha-Coutinho ML. Novas opções, antigos dilemas: mulher, família, carreira e relacionamento no Brasil. Temas em Psicologia da SBP 2004; 12:2-17.

Rother ET. Editorial Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paul Enferm 2007; 20:

Salci MA, Marcon SS. De cuidadora a cuidada: quando a mulher vivencia o câncer. Texto Contexto Enferm 2008; 1: 544-51.

Salci MA, Marcon SS. As mudanças no cotidiano familiar e na vida da mulher após o início do tratamento para o câncer. Rev Min Enferm 2010; 14:43-51.

Santana VS, Peres RS. Perdas e ganhos: compreendendo as repercussões psicológicas do tratamento do câncer de mama. Aletheia 2013; 40:31-42.

Scavone L. Maternidade: transformações na família e nas relações de gênero. Interface - Comunic, Saúde, Educ 2001; 5:47-60.

Semple CJ, McCance T. Parents’ Experience of Cancer Who Have Young Children: A Literature Review. Cancer Nursing 2010; 33:110-18.

Stellin RMR, Monteiro CFD, Albuquerque RA, Marques CMXC. Processos de construção de maternagem. Feminilidade e maternagem: recursos psíquicos para o exercício da maternagem em suas singularidades. Estilos da Clínica 2011; 16:170-85.

Stinesen-Kollberg K, Thorsteinsdottir T, Wilderang U, Steineck G. Worry about one’s own children, psychological well-being and interest in psychosocial intervention. Psycho-Oncology 2013; 22: 2117-23.

Stinesen-Kollberg K, Wilderang U, Moller A, Steineck G. Worrying about one’s children after breast cancer diagnosis: desired timing of psychosocial intervention. Support Care Cancer 2014; 22: 2987-995.

Travassos-Rodriguez F, Féres-Carneiro T. Maternidade tardia e ambivalência: algumas reflexões. Tempo Psicanalítico 2013; 45:111-21.

Walsh SR, Manuel JC, Avis NE. The impact of breast cancer on younger women’s relationship with their partner and children. Families, Systems & Health 2005; 23:80-93.

Winnicott DW. Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves; 1988. Preocupação materna primária; p.491-8. (Trabalho original publicado em 1956).

Winnicott DW. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes; 1996. A mãe dedicada comum; p.1-11. (Trabalho original publicado em 1949).

[WHO]. World Health Organization. Media centre – fact sheets – cancer. Available from: <URL:http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs297/en/> [2015 August 22]

Zornig SMA. Tornar-se pai, tornar-se mãe: o processo de construção da parentalidade. Tempo psicanalítico 2010; 42:453-70.

Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher

Instituições

A.C.Camargo Cancer Center - São Paulo - Brasil

Autores

Simone Santana Gomes, Maria Teresa Duarte Pereira da Cruz Lourenço, Christina Haas Tarabay