Avaliação de saúde e autocuidado entre mulheres adultas e idosas
A avaliação subjetiva de saúde constitui uma medida válida para predizer resultados futuros de saúde, sendo reconhecida como um preditor importante de mortalidade e de declínio funcional (LEE, 2000). A avaliação feita pela pessoa acerca das suas condições de saúde pode refletir seu autoconhecimento de problemas físicos e psicológicos e evidenciar sua satisfação com a própria saúde, tornando-a apta a comunicar ao profissional da saúde seus sintomas e dificuldades, possibilitando a busca de melhores níveis de qualidade de vida. Os indicadores de morbimortalidade, medidos por demanda aos serviços e por inquéritos populacionais, evidenciam que há riscos diferenciados de adoecimento e de morte para homens e mulheres. No Brasil, os homens apresentam uma expectativa média de vida em torno de sete anos menor do que a das mulheres (IBGE, 2010), no entanto, estas apresentam doenças crônicas e incapacidades com maior frequência do que os homens (ABREU, CÉSAR & FRANÇA, 2009; LAURENTI, JORGE, & GOTLIEB, 2005). Estudos sobre a questão de gênero e autocuidado adquirem importância na medida em que a própria construção de tais conceitos perpassa aspectos sociais, históricos e culturais, que definem funções e atributos diferenciados para homens e mulheres (GOMES, NASCIMENTO & ARAÚJO, 2007) e, por isso, podem influenciar a adoção ou não de comportamentos e hábitos saudáveis. O presente trabalho focalizou a saúde feminina, com ênfase na investigação da autoavaliação de saúde e de autocuidado, bem como das metas pessoais de saúde de mulheres de diferentes faixas de idade residentes no Rio de Janeiro. Participaram 198 mulheres de 20 a 77 anos (M=40), que responderam a um questionário autoadministrado, apresentado em formato impresso ou eletrônico. A maioria das respondentes possuíam nível superior de escolaridade (54,6%) e eram casadas ou estavam em união conjugal estável (46,5) e tinham ao menos um filho (55,1%). Com relação a saúde autoavaliada, observou-se elevados níveis de satisfação das participantes com suas condições atuais de saúde. A avaliação mais frequente (46,5%) foi da saúde como “boa”, correspondente a um valor de 4 em escala likert de 5 pontos. Na apreciação da própria qualidade de vida, a avaliação principal foi de boa qualidade de vida (41,9%). Levadas a avaliar a qualidade dos cuidados dispensados em prol da própria saúde, houve maiores indícios de avaliação moderada (cuidar mais ou menos) (47,5%). Em termos de metas pessoais de saúde, no sentido do que gostariam de modificar em seus padrões de cuidados pessoais para promoção de saúde, as mulheres indicaram principalmente as seguintes: aumentar a frequência dos exercícios físicos (73,2%), melhorar a alimentação (61,6%) e perder peso (60,1%). É evidente a importância de estudos acerca das relações de gênero e idade para que se possa conhecer, compreender e comparar as especificidades, singularidades e influências que esses constructos sócio-histórico e culturais produzem na formação de crenças e comportamentos relativos à promoção, proteção e prevenção no campo da saúde e do autocuidado. Isto constitui o substrato necessário para o desenvolvimento de referenciais teórico-metodológicos que embasem estratégias de avaliação e intervenção mais adequadas e inclusivas, especialmente na atenção primária.
ABREU, D. M. X. de, CÉSAR, C. C., & FRANÇA, E. B. Diferenciais entre homens e mulheres na mortalidade evitável no Brasil (1983-2005). Caderno de Saúde Pública, 25(12), 2672-2682, 2009.
GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F.; ARAÚJO, F. C. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Caderno de Saúde Pública, v. 23, n. 3, p. 565-574, 2007.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Observações sobre a evolução da mortalidade no Brasil: O passado, o presente e perspectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Retirado em 07/05/2011, de http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/2009/notastecnicas.pdf
LAURENTI, R., JORGE, M. H. P. de M., & GOTLIEB, S. L. D. Perfil epidemiológico da morbi-mortalidade masculina.Ciência & Saúde Coletiva, 10(1), 35-46, 2005.
LEE, Y. (2000). The predictive value of self assessed general, physical, and mental health on functional decline and mortality in older adults. Journal of Epidemiology and Community Health, 54(2), 123-129.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher
Marcelo Jacinto de Abreu, Lilian Maria Borges Gonzalez