O PAPEL DA PSICOLOGIA FRENTE ÀS EMERGÊNCIAS E DESASTRES: O ENFRENTAMENTO AOS ACIDENTES DE MOTOR COM ESCALPELAMENTO NOS RIOS DA AMAZÔNIA
Introdução: Na região amazônica os rios são parte ativa das comunidades que vivem em seu entorno (ribeirihos) e se configuram como sua principal via de deslocamento. No estado do Pará os motores dos barcos apresentam uma peculiaridade: um eixo rotacional que se descoberto apresenta o risco de que os cabelos dos tripulantes possam se prender a ele, ocasionando o arranque abrupto do couro cabeludo, com a possibilidade de comprometer o pavilhão auricular, as sobrancelhas e a face, mutilando e podendo provocar o óbito dos passageiros. Esse acidente é denominado de Escalpelamento e suas vítimas são principalmente mulheres e crianças e afeta toda uma dinâmica familiar e social. Por sua gravidade e repercussões a ocorrência do acidente é notícia em todo o estado provocando na população mobilização e indignação. A fim de oferecer assistência às vítimas foi elaborado o Programa de Atendimento Integral às Vítimas de Escalpelamento (PAIVES). Na busca por enfrentar a ocorrência desses acidentes foi constituída a Comissão Estadual de Erradicação dos Acidentes de Motor com Escalpelamento (CEEAE) da qual o Conselho Regional de Psicologia (CRP-10) faz parte. Objetivo: descrever a atuação da Psicologia em emergências e desastres no enfrentamento ao acidente com escalpelamento nos rios da Amazônia. Metodologia: Relato de experiência Resultados e discussão: Ao compreender o acidente com escalpelamento enquanto emergência a psicologia tem como contribuir tanto na prevenção como intervenção após sua ocorrência. Através do PAIVES foi construído um fluxograma de assistência em saúde às vítimas de escalpelamento que abrange o atendimento imediato após o acidente, a primeira internação hospitalar na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP) – hospital de referência a esta demanda –, o acompanhamento ambulatorial, as reinternações, bem como o abrigamento em um albergue chamado de Espaço Acolher específico para estas mulheres e crianças. Na FSCMP, é garantida às vítimas assistência em saúde por equipe multiprofissional qualificada, em que a atuação da psicologia objetiva principalmente reduzir as sequelas oriundas dos acidentes com escalpelamento. Além da cobertura assistencial, na esfera da prevenção a colaboração da psicologia acontece por meio da participação do CRP-10 junto a CEEAE. Através da comissão a psicologia está inserida na elaboração de políticas públicas que visem à redução dos riscos, o combate ao escalpelamento e a assistência após o acidente, bem como na promoção de capacitação profissional para esta demanda. Considerações finais: O acidente com escalpelamento figura como uma tragédia que ocorre nos rios do estado do Pará. Uma tragédia passível de prevenção e cuja assistência demanda competência técnica específica, além de conhecimento das questões regionais, culturais e de gênero que cercam sua ocorrência. Nesse sentido, a atuação da psicologia no enfrentamento ao escalpelamento se dá de forma ampla, integral e humanizada contribuindo de forma significativa na atenção às vítimas de escalpelamento e fortalecendo o papel da psicologia na elaboração de políticas públicas no âmbito da saúde, ampliando ainda os espaços de atuação dos psicólogos e garantindo assim o forte compromisso social da profissão.
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Guia técnico do Programa de Atendimento Integral às Vítimas de Escalpelamento (PAIVES). Belém, 2008.
GUIMARÃES, A. G. M.; BICHARA, C. N. C. O Processo de Construção de Políticas Públicas em Prol do Ribeirinho Vítima de Escalpelamento na Amazônia. In: Conhecer: Debate entre o Público e o Privado, v. 1, p. 1-33, 2012.
Conselho Federal de Psicologia. Psicologia de emergências e desastres na América Latina: promoção de direitos e construção de estratégias de atuação. Brasília: CFP, 2011.
4. Modelos de Prevenção e Promoção da Saúde em Diferentes Contextos - 4.8 Atenção Psicológica em Situações de Emergência e Desastres
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - Pará - Brasil
Ana Carolina Lins, Crissia Cruz