Luto em hospitais – o enfrentamento dos profissionais da saúde: uma revisão sistemática
Morreram em hospitais 13,5% das pessoas que foram hospitalizadas em SP e RS1. Profissionais da saúde podem vivenciar o processo de luto pelo contato com a morte no cotidiano. É importante conhecer as estratégias de enfrentamento que esses profissionais adotam diante da morte de seus pacientes. Avaliar as estratégias de enfrentamento relacionadas ao luto adotadas por profissionais da saúde que atuam em hospitais. Realizou-se revisão sistemática (RS) no MEDLINE (até 01/05/2017), adotando-se a estratégia: “(Bereavement) and (Staff or Health Personnel) and (Hospitals) and (Adaptation, Psychological)”. Dois revisores identificaram estudos elegíveis: em inglês e obtidos na íntegra. A estratégia identificou 60 artigos. Após leitura dos títulos e resumos revisou-se a versão completa de 17 artigos, e oito preencheram os critérios de inclusão. Estudos foram conduzidos na sua maioria com médicos e enfermeiras no Canadá, China e Reino Unido, e adotaram metodologia qualitativa. Profissionais que atuam em cuidados paliativos apresentaram coping existencial e emocional, com reestruturação cognitiva (reconstruindo pressupostos e significados sobre suas vidas e sobre a morte); melhor gerenciamento de emoções (redefinindo prioridades e metas pessoais/ profissionais), e lidando com a morte de forma proativa: revendo a identidade profissional e conversando a respeito do tema com seus familiares2. Profissionais que perderam pacientes em mortes violentas em unidades de cuidados psiquiátricos adotaram medidas emocionais e comportamentais para lidar com sentimentos de depressão e desmoralização: busca por apoio (institucional inclusive); falar abertamente sobre a perda para compreendê-la melhor; mudanças institucionais (como aumento na contenção)7. Oncologistas canadenses das especialidades pediátrica e adulto apresentaram como estratégias: reestruturação cognitiva; busca por suporte social emocional (especialmente do cônjuge); distração (hobbies, prática de exercícios); e como estratégias passivas espiritualidade e desengajamento mental (considerado um ‘mecanismo de sobrevivência’)3,4. Cerca de 10% dos médicos estudados na Inglaterra experimentaram reações emocionais intensas diante da morte de um paciente, independente do sexo, experiência ou especialidade escolhida. Estratégias apresentadas: ventilação de emoções e/ou busca por socialização; supressão de atividades concorrentes, com foco no trabalho; e religiosidade5. Enfermeiras canadenses que atuam em cuidados paliativos apresentaram: afastamento/retirada; religiosidade e reinterpretação positiva, estratégias de controle secundário6. Enfermeiras que atuam na recuperação de órgãos apresentaram: antecipação para exercer o controle das suas emoções; distanciamento; busca pela manutenção da normalidade (manutenção de comportamentos de cuidado como pentear o cabelo e continuar a falar com o doador); busca por suporte social emocional (especialmente por parte das colegas de enfermagem); se dar um tempo para refletir e encerrar a relação doador-cadáver-enfermeira; e reavaliação positiva8. Enfermeiras de UTI pediátrica adotaram: ventilação de emoções (nos domínios público: produção acadêmica e estudo, e privado: diário); além do uso do humor, especialmente humor negro; busca por apoio social; autocuidado; busca do encerramento da relação com o paciente e sua família. Os profissionais da saúde estudados adotaram com mais frequência estratégias de enfrentamento ativas do que passivas, sendo que o desengajamento parece piorar a angústia e sofrimento, enquanto que a reinterpretação positiva pode trazer benefícios nas esferas profissional e pessoal.
1. Machado JP, Martins M, Leite Ida C. Public-private settlement and hospital mortality per sources of payment. Rev Saude Publica 2016; 21;50. pii: S0034-89102016000100405. doi: 10.1590/S1518-8787.2016050006330.
2. Chan WC, Tin AF, Wong KL, Tse DM, Lau KS, Chan LN. Impact of Death Work on Self: Existential and Emotional Challenges and Coping of Palliative Care Professionals. Health Soc Work. 2016;41(1):33-41.
3. Granek L, Barrera M, Scheinemann K, Bartels U. Pediatric oncologists' coping strategies for dealing with patient death. J Psychosoc Oncol. 2016;34(1-2):39-59. doi: 10.1080/07347332.2015.1127306. Epub 2016 Feb 11.
4. Granek L, Mazzotta P, Tozer R, Krzyzanowska MK. Oncologists' protocol and coping strategies in dealing with patient loss. Death Stud. 2013;37(10):937-52.
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6. Desbiens JF, Fillion L. Coping strategies, emotional outcomes and spiritual quality of life in palliative care nurses. Int J Palliat Nurs. 2007;13(6):291-300.
7. Bowers L, Simpson A, Eyres S, Nijman H, Hall C, Grange A, Phillips L. Serious untoward incidents and their aftermath in acute inpatient psychiatry: theTompkins Acute Ward study. Int J Ment Health Nurs. 2006;15(4):226-34.
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9. Rashotte J, Fothergill-Bourbonnais F, Chamberlain M. Pediatric intensive care nurses and their grief experiences: a phenomenological study. Heart Lung. 1997;26(5):372-86.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
HCFMBUNESP - São Paulo - Brasil, UNIFESP - São Paulo - Brasil
DANUSA DE ALMEIDA MACHADO, CLARISSA CABIANCA RAMOS