11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

Reflexões Sobre a visita da criança durante a hospitalização de um ente querido na UTI adulto.

Resumo

A visita de crianças aos familiares Em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma prática pouco recorrente no Brasil. O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) considera criança até 12 anos de idade incompletos e muitas UTIs adulto utilizam-se desta idade para regulamentar a idade mínima para permitir a entrada da criança nestas unidades. No entanto, crianças mais novas manifestam o desejo de serem participativas do processo de hospitalização de um ente querido, gerando questionamentos nos familiares e equipe de saúde. A prática revela que muitos profissionais identificam a necessidade de abrir exceções, porém, tais exceções acabam ficando a critério do profissional e não baseadas em estudos e dados científicos. Questiona-se então, qual o lugar da criança frente a hospitalização de um ente querido em UTI? O presente trabalho teve como objetivo refletir sobre os aspectos emocionais relacionados a visita de crianças de até 12 anos de idade a familiares em UTI adulto, por meio da apresentação de vinheta clínica com base em um atendimento psicológico realizado após solicitação da equipe médica sobre a possibilidade de visita de uma criança de 9 anos ao seu pai em estado crítico em UTI , durante um programa de residência multiprofissional em um centro de oncologia na cidade de São Paulo-SP, relacionando-a com dados da literatura. Notou-se que fatores socioculturais influenciam o modo dos sujeitos lidarem com a terminalidade de um familiar, repercutindo também no posicionamento dos profissionais de saúde e pais frente ao desejo da criança de realizar a visita em UTI. Entretanto, a literatura sobre o impacto do adoecimento de um genitor para a criança revela que a mesma compreende e é impactada pelo adoecimento de um ente querido. As pesquisas evidenciam que as crianças desejam informações acerca do tratamento e prognóstico do familiar e que passam a questionar sobre finitude ao notar o avanço de uma doença. Pontuam ainda que a maneira como os pais lidam com o adoecimento pode repercutir no enfrentamento dos filhos. A comunicação revela-se fator positivo para o processo de elaboração do luto, enquanto que a impossibilidade de expressar-se pode acarretar prejuízos para o desenvolvimento da criança. Mediante discussão de vinheta clínica, foi possível perceber que a visita da criança ao seu pai com acompanhamento psicológico assegurou a mesma à sensação acolhimento em suas necessidades e permitiu a despedida de seu pai. A oferta de um espaço apropriado à criança para retirada de dúvidas, expressão de seus medos, fantasias e sentimentos validou a importância de haver um suporte do ponto de vista psíquico nesse contexto delicado e sensível. A criança pôde sentir-se inserida no contexto de terminalidade de seu pai, simbolizando e ressiginificando o adoecimento e morte de seu genitor, o que poderá auxiliá-la no processo de elaboração do luto. Destacou-se a importância da intervenção psicológica junto aos familiares, crianças e equipe, assim como a relevância de uma reflexão mais apurada acerca das visitas de crianças neste contexto, para assegurar que suas necessidades sejam reconhecidas e cumpridas.

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Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto

Instituições

AC Camargo Cancer Center - São Paulo - Brasil

Autores

Raquel Sousa Neto, Christina Haas Tarabay, Maria Tereza Cruz Lourenço