PERSPECTIVAS E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DE CUIDADORES DE PACIENTES ONCOLÓGICOS: RELATO DE UMA VIVÊNCIA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL.
Introdução: O câncer é uma doença cujo diagnóstico altera significativamente a vida do paciente e a dinâmica familiar, em virtude de ser uma doença comumente associada à terminalidade. A Psico-oncologia é a área que se dedica ao estudo da influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento, tratamento e reabilitação de pacientes oncológicos e seus acompanhantes. Isto posto, este trabalho objetiva relatar uma vivência de acadêmicos de psicologia junto a cuidadores de pacientes com diagnóstico de câncer (CA) terminal, enfocando as perspectivas e estratégias de enfrentamento empregadas. Método: Após levantamento bibliográfico, foram realizados 04 encontros semanais, com duração de 01 hora, com os cuidadores que se encontravam em uma Casa de Apoio na cidade de Cacoal – RO. As atividades realizadas englobaram: Grupo Focal, dinâmicas, escuta analítica, acolhimento e discussões em grupo. As intervenções foram realizadas por 03 estagiárias do 5º Período do Curso de Psicologia na Disciplina de Psicologia Comunitária e Políticas Públicas. Resultados e Discussões: Participaram dos encontros 11 cuidadores, os quais verbalizaram acreditar estar ajudando o próximo e que isto gera sensação de bem-estar, embora seja desgastante; cuidadores que contam com a ajuda de outros cuidadores/familiares para os cuidados ao paciente demostram maior entusiasmo comparado aos que estão sozinhos, reafirmando a correlação positiva entre revezamento e qualidade de vida entre cuidadores apontada na literatura. A forma como se deu a escolha para ser cuidador, se por aceitação espontânea ou indicação de outros, também influencia na execução dessa tarefa, podendo ser com dedicação ou mero cumprimento de dever. Acerca do perfil de cuidadores, a expressiva maioria é composta por mulheres, com idade média de 51 anos, reverberando o papel altruísta que a mulher exerce na sociedade em diversas situações. Além da espiritualidade, observou-se que o bom humor também é usado como estratégia de enfrentamento, até porque os cuidadores sentem-se na obrigação de estarem “bem” (sic) para não desanimar o paciente. O vínculo entre cuidador e paciente é, em sua maioria, familiar, podendo aflorar conflitos devido ao grau de afinidade, bem como possíveis mudanças bruscas de comportamento do paciente por causa da doença. Tais fatores demandam intervenções para além do físico, englobando os aspectos psicológicos e, consequentemente, requerendo intervenções específicas para todas as demandas apresentadas. Destaca-se a necessidade de acolhimento psicológico aos acompanhantes, tendo em vista o papel fundamental que estes exercem. Problematiza-se ainda a possibilidade de os alunos de psicologia vivenciarem momentos como os aqui descritos, dada a relevância deste aprendizado para a vida profissional. Considerações: Partilhar as vivências em grupo favorece oportunidade para refletir sobre a tarefa de cuidar, fomentando novas perspectivas e estratégias. Destarte, espera-se contribuir para o avanço na elaboração de práticas que reduzam o impacto psicológico no cuidador repercutindo na qualidade de vida do paciente, no resgate de sua autonomia e subjetividade; e acolhimento e psicoeducação aos acompanhantes como recursos para manejar situações de cuidados paliativos e prognóstico terminal. É relevante destacar o trabalho interdisciplinar, partindo do pressuposto de “dor total” em que se encontra esse paciente, seu acompanhante.
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