ACOLHIMENTO DE ÓBITO: intervenção psicológica em situações de crise no hospital de urgência e emergência.
O presente estudo tem por objetivo relatar e discutir sobre a atuação do psicólogo no acolhimento de óbito dos familiares de pacientes no Hospital de Urgência e Emergência referência em trauma no estado do Pará. Esta instituição atende pacientes que encontram-se com urgências e/ou emergências ortopédicas através de ferimentos por arma de fogo e arma branca, acidentes automobilísticos, de trabalho e queimaduras, porém, há casos em que pacientes não sobrevivem ao acidente ou trauma acometido, e diante do perfil hospitalar as mortes acontecem de forma abruptas e inesperadas. Sendo assim, uma situação de emergência ou acidente pode desencadear uma crise e desorganização psíquica nos sujeitos, na qual os mecanismos de enfrentamento dos familiares podem ser insuficientes, sendo necessária a intervenção psicológica. Ressalta-se que perdas súbitas são fatores de risco para luto complicado. Com isto, consideramos a possibilidade de oferecer uma escuta acolhedora e paciente à urgência subjetiva dos familiares e disponibilizar suporte psicológico neste momento doloroso de perda. Este trabalho foi desenvolvido no período inicial da residência, sob supervisão técnica, da psicóloga/preceptora disponibilizada pelo Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, no período de março à abril de 2017, em turno integral. Utilizaremos fragmentos da experiência prática para ilustrar o trabalho com o método relato de experiência. Após a constatação da morte do paciente, os familiares foram encaminhados para a sala da Psicologia para notificação do óbito comunicado pelo Médico do Pronto atendimento. Após a comunicação aos familiares, foi realizado o primeiro acolhimento com intervenções diretivas para facilitar a reorganização psíquica e auxiliar na ressignificação do acontecido, disponibilizando suporte psicológico e orientações para suporte social. Em decorrência da morte súbita, a intervenção psicológica também visou identificar o nível de compreensão, as fantasias e mitos acerca do fenômeno vivenciado e possíveis transtornos psicológicos que possam emergir devido ao luto. Entretanto, ressalta-se situações em que a Psicologia acompanhou familiares para reconhecimento do corpo do paciente no necrotério, pois compreende-se a importância para minimizar fatores de risco do luto complicado futuramente. Para isto, há casos em que a Psicologia utiliza de encaminhamentos para serviços de rede externos para seguimento do acompanhamento psicológico. Destaca-se ainda que o acolhimento psicológico no hospital de Urgência e Emergência visa oferecer suporte para organização psíquica no primeiro momento da perda, e não tem como objetivo oferecer atendimento psicoterápico sistemático para elaboração do luto. Foi possível observar nos atendimentos, que os familiares após a comunicação de má notícia, apresentavam desorganização psíquica, embotamento e alguns apresentavam desorientação espacial decorrente do trauma psicológico de uma morte inesperada, nas quais foram de suma importância as intervenções psicológicas para reorganização psicológica, suporte psicológico e orientações para busca de apoio familiar e social e encaminhamentos externos. Portanto, vale ressaltar a importância a prática do psicólogo em situações de acolhimento de óbito no Hospital referência em urgência e emergência de trauma com objetivo de intervir para preconizar cuidados na prevenção do luto complicado e outros transtornos psicológicos decorrentes da perda súbita.
Palavras-Chave: óbito; morte inesperada; luto; intervenção psicológica; Urgência e Emergência.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Jéssica Leonardo Machado, Débora Cristina Souza Pegado, Emily Suelen Antunes de Castro