11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO – A IMPORTÂNCIA DO CUIDAR PARA ALÉM DAS SEQUELAS

Resumo

O acidente vascular encefálico (AVE) é uma lesão neurológica aguda causada por isquemias ou hemorragias intracranianas e seu acometimento pode acarretar sequelas transitórias ou permanentes (Novaes, 2014). Diante da ocorrência de um AVE, a assistência psicológica é extremamente importante no processo de hospitalização do paciente e de seus familiares, e não deve ser reduzida a intervenções voltadas apenas aos aspectos relacionados à lesão, visto que para além das possíveis perdas impostas por sequelas, também está implícita a experiência subjetiva dada pela condição inesperada, indesejada e transformadora ocasionada pelo abrupto adoecimento (Winograd, Sollero-de-Campos & Drummond, 2008). Este trabalho visa enfatizar a importância da atuação ética do psicólogo pautada em intervenções que viabilizem a emersão da subjetividade do paciente diante de quadros clínicos graves e limitantes, oportunizando a expressão emocional e a reorganização psíquica, incluindo o suporte aos familiares e a mediação com equipe. Trata-se de um relato de experiência do acompanhamento psicológico de Caio (nome fictício), 32 anos, que sofreu um AVE - hemorrágico e de sua familiares na enfermaria de um Hospital privado em Goiás. O paciente foi internado, passou por cirurgia, esteve em estado gravíssimo na Unidade de Terapia Intensiva, e começou a ser acompanhado pela psicologia no segundo mês de internação, já na enfermaria, consciente, comunicando-se por gestos, apresentando limitações cognitivas, motoras e humor rebaixado. Na avaliação psicológica foi possível identificar que o paciente, a família e a equipe, estavam envoltos em um pacto do silêncio, caracterizado pela alteração ou omissão das informações fornecidas ao paciente sobre diagnóstico, gravidade e/ou tratamento, deixando-o alienado de sua situação (Rodriguez, 2014). Caio não recebia informações diretas sobre o seu adoecimento, quadro clínico/tratamento, não tinha notícias ou contato com amigos e não era estimulado a se expressar sobre a sua condição. Percebeu-se que o cuidado do paciente estava direcionado ao quadro neurológico, às limitações motoras e ao tratamento clínico, porém, a partir do acompanhamento da psicologia, além da estimulação das funções cognitivas, buscou-se a emersão da subjetividade de Caio, para que ele pudesse expressar o que compreendia, o que gostaria de saber, quais suas dúvidas, seus sentimentos e desejos, incluindo-o no seu tratamento. Caio expressou o medo, a insegurança e preocupação sobre o que estava vivenciando, contudo, seus sentimentos foram acolhidos, e os familiares e a equipe foram orientados sobre os aspectos psicológicos e a importância de inserir o paciente nos próprios cuidados. A atuação da psicologia considerou a relação do paciente com o adoecimento, sem negligenciar os aspectos fisiológicos e cognitivos, deu espaço para a expressão da experiência e da identidade subjetiva, propiciando o processo de elaboração psíquica, que potencializa a autonomia de sentir, pensar e reagir, incluindo a re-socialização. Concluiu-se que é imprescindível que a atuação do psicólogo com pacientes que sofreram um AVE seja para além dos danos provocados pela lesão, se interessando pelo quadro psíquico e pela experiência subjetiva diante do adoecimento e seus possíveis desdobramentos, dando suporte aos familiares e sensibilizando a equipe para o despertar da importância de legitimar o paciente em seus cuidados.

Referências Bibliográficas

Novaes, P. B. M. (2014). Orientação básica aos pacientes com acidente vascular cerebral - AVC após alta hospitalar. 19f (Monografia de especialização em enfermagem) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Rodriguez, M. I. F. (2014). Despedida silenciada: equipe médica, família, paciente – cúmplices da conspiração do silêncio. Psic. Rev. São Paulo, volume 23, n.2, 261-272.

Winograd, M., Sollero-de-Campos, F., & Drummond, C. (2008). O atendimento psicanalítico com pacientes neurológicos. Revista Mal Estar e Subjetividade, 8(1), 139-170.

Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe

Autores

Magda Souza Ferreira, Aline Dias Martins, Júlia Paula Oliveira