O BRINCAR NO PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO: Um relato de experiência.
A hospitalização, tanto para a criança como para o adulto, não é uma experiência agradável, pois é um período que não pode ser controlado, podendo proporcionar perdas e exigindo adaptações para as mudanças que ocorrem, trazendo sofrimento físico e psicológico. Quando a criança é internada em um hospital ela é retirada do seu cotidiano, separada dos seus familiares e pessoas com as quais possui vínculo afetivo, interrompe suas atividades escolares, e certamente suas brincadeiras, é colocada em um quarto de hospital onde tudo se faz diferente. A equipe de saúde pode realizar a aproximação e comunicação com a criança por meio do brincar (jogos, desenhos, contação de histórias, perguntas de adivinhação, entre outros). Pois o brincar desempenha muitos papéis no desenvolvimento infantil, e sem dúvida a criança o utiliza para minimizar seu sofrimento, desesperos, angústia, medo, ansiedade, frustações, impotência, entre outros. Para a criança, o brincar é a forma infantil da capacidade humana para lidar com a experiência e dominar a realidade.
Objetivando amenizar os possíveis aspectos negativos da hospitalização e favorecer a humanização do atendimento hospitalar realizou-se, em um Hospital Universitário Infantil oito intervenções de 1 hora e 30 minutos, ocorrendo uma vez por semana com crianças de 0 a 14 anos submetidas aos atendimentos da emergência e que ocupavam leitos de internação, com seus cuidadores. Cada contato com a criança e seus cuidadores ocorreu de maneira singular partindo de suas demandas, e utilizando materiais lúdicos para cada idade. Passando esta etapa do primeiro contato, a criança interagia por meio de conversas variadas e brincadeiras. Muitas vezes chegavam indispostas para corresponder às intervenções lúdicas, devido a seu adoecimento, porém não resistiam por muito tempo e ao ver as outras crianças brincando com os estagiários, logo pediam para participar.
As intervenções fizeram com que as crianças deslocassem a atenção dos sintomas para a conversa e para as brincadeiras lúdicas propostas. Muitas vezes, por exemplo, diminuindo sintomas de dor, como relata uma mãe sobre seu filho com suspeita de braço quebrado, enquanto ele brincava respondendo as intervenções: “ele veio chorando e gritando de dor no carro, mas ele até esqueceu agora brincando” (sic). O brincar alivia medos e seus conflitos, e ao qualificar as experiências lúdicas pode-se minimizar o estado de ansiedade por meio da descontração.
A utilização do brincar como facilitador do contato e na construção de uma relação de confiança com a criança, cuidadores e equipe de saúde foi um instrumento interessante e útil para conseguir alcançar a proposta estabelecida, de amenizar a problemática da adaptação da criança e cuidadores. Foi desafiante intervir no setor de saúde, que é considerado deficitário pela maioria da população brasileira, e interagir com a comunidade hospitalar no auxílio das relações, tendo como consequência a mudança do imaginário da hospitalização, que passou a ter, pelo menos naquele momento, a percepção do acolhimento e da atenção. O contato com a área hospitalar revelou aos estagiários as possibilidades e desafios da profissão e também a importância da atuação realizada pela Psicologia Hospitalar.
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