GESTANTES CONSUMIDORAS DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVA E REDUÇÃO DE DANOS: PROPOSTA DE LINHA DE CUIDADO EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA
O abuso de substâncias psicoativas na gestação é considerado uma situação de alto risco e estudos sobre esse tema são escassos, embora alguns autores apontam o período gestacional como uma janela para sensibilização sobre o cuidado. Essa situação é permeada de preconceitos e desafios devido a dificuldades para acolhimento da equipe de saúde, de relato espontâneo de uso e no suporte familiar. A Política Nacional sobre Drogas estabelece a redução de danos como uma estratégia de saúde, modelo de abordagem e política de saúde. Na perspectiva da redução de danos se busca respeitar o direito de escolhas para reinventar modos de vida através da construção de um projeto terapêutico singular com a pessoa que faz uso de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas. O acompanhamento e a compreensão das vivências durante o período gravídico-puerperal se tornam complexos devido o cuidado ampliado necessário para garantir saúde e qualidade de vida para a díade mãe-nascituro/bebê e prever suporte do núcleo familiar antes e depois do parto. O objetivo deste trabalho é fazer um relato de experiência a partir de duas vivências de cuidado na maternidade, sendo um com uma gestante e outro com uma puérpera, os quais provocaram a necessidade de elaboração de uma proposta de implantação de Pré-Natal Psicológico voltado para gestantes de alto-risco em uma maternidade pública. As situações acolhidas e acompanhadas no Hospital Maternidade do Divino Amor, localizado em Parnamirim-RN, nos fizeram refletir sobre as dificuldades enfrentadas e delinear as possibilidades de atenção numa unidade de serviço hospitalar para a gestante e puérpera que faz uso abusivo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas. Um dos casos foi acompanhado durante o puerpério e refere-se a uma mulher com 31 anos, moradora de rua, usuária de múltiplas substâncias, multípara, com histórico de abandono de outros filhos, declarou gravidez planejada e desejo de reelaborar seu projeto de vida. O outro caso foi acolhido na urgência durante a gestação e refere-se a uma adolescente com 16 anos, primigesta, usuária de cannabis, tentou suicídio e solicitou acolhimento institucional devido vivência de violência intrafamiliar. O delineamento da linha de cuidado coerente com a Política Nacional foi construído de forma coletiva através de reuniões com representantes da rede de atenção psicossocial, serviços socioassistenciais, conselho tutelar e promotoria da infância e adolescência. Conclui-se importante propor uma maior articulação nas três esferas governamentais entre os gestores e os profissionais da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e a Rede Cegonha para promover um cuidado que garanta humanização no atendimento à saúde mental, em especial os casos de abuso de substâncias psicoativas no período gravídico-puerperal. Essa particularidade da atenção na rede cegonha requer mais pesquisas científicas que respaldem as escolhas de terapêutica e proposta de cuidado, tendo em vista a necessidade de elaboração de planos de acompanhamento terapêuticos pela rede intersetorial avaliando aspectos biopsicossociais contemplando o risco mãe-bebe, bem como fortalecendo o vínculo afetivo da díade em questão.
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3. Intervenções Psicológicas na Rede de Atenção à Saúde - 3.5 Dependências de Álcool e Drogas
HOSPITAL MATERNIDADE DO DIVINO AMOR - Rio Grande do Norte - Brasil
DARLIANE DANTAS OLIVEIRA