Protocolo de Atendimento Psicológico: contribuição para a integralidade do cuidado
No momento em que nos esbarramos com a necessidade de hospitalização e entramos em contato abruptamente com aspectos e conceitos de âmbito biopsicossocial e espiritual, somados a história de vida, subjetividade e individualidade, elucida-se a necessidade de uma assistência transdisciplinar sistematizada. A inserção do psicólogo no contexto hospitalar objetiva promover e preservar a saúde mental dos pacientes e seus familiares diante dos aspectos emocionais desorganizadores que são mobilizados pela finitude escancarada (Rezende, 2016). A assistência psicológica ofertada na maior parte das instituições de saúde, públicas ou particulares, não contam com protocolos assistenciais focados na tríade paciente-equipe-família (Silva, Vergara, Avelar & Cardoso, 2016)
Este trabalho trata-se de um relato de experiência elaborado pelas autoras, psicólogas residentes pelo programa de Residência Multiprofissional da Secretária Estadual de Saúde de Goiás, a partir da elaboração do “Protocolo de Atendimento Psicológico- Enfermarias” com enfoque na atuação do psicólogo nas enfermarias dos hospitais gerais; a construção se deu diante de uma revisão da literatura científica nacional e internacional, a partir da vivência profissional prévia das autoras, da experiência como residentes em um hospital de urgências, bem como pela observação da escassez de instrumentos norteadores do trabalho desenvolvido pelo psicólogo hospitalar.
O protocolo desenvolvido propõe aos psicólogos um fluxograma para nortear suas rotinas; resultando em 8 etapas descritas: triagem psicológica (1), identificação prévia das demandas emocionais (2), atendimento psicológico (3), interconsulta/visita multiprofissional (4), classificação da complexidade emocional (5), plano terapêutico/ registro dos atendimentos (6), armazenagem dos documentos em prontuário (7) e encerramento (8). O protocolo abarca instrumentos que auxiliam na avalição psicológica do paciente/família, contribuindo para o alcance das metas estabelecidas entre a tríade, inclui a frequência que o profissional realizará os atendimentos a partir da complexidade emocional das demandas elencadas, bem como fichas de evolução psicológica com orientações de como registrar os atendimentos sem perder a confiabilidade e sigilo das informações.
Conclui-se que a construção e utilização de protocolos de atendimento psicológico corrobora com a literatura, constituindo um instrumento fundamental para auxiliar a sistematização dos dados obtidos, representando um recurso para orientar as atividades do psicólogo, fundamentar sua avaliação, possibilitar o desenvolvimento científico e aprimoramento profissional e consequentemente, o reconhecimento das intervenções do psicólogo hospitalar (Azevêdo, 2010).
A experiência em construir uma proposta de protocolo de atendimento psicológico partiu da angústia das pesquisadoras em atuar em instituições hospitalares em que o serviço de psicologia não prioriza a sistematização, gerando intervenções e contribuições superficiais aos pacientes e seus familiares. Protocolos sistematizam, norteiam e abrangem a assistência psicológica no campo da saúde e hospitalar, contribuindo de forma efetiva para o cumprimento dos princípios éticos, de integralidade e universalidade do cuidado.
Azevêdo, A.V.S. (2010). Construção do Protocolo de Avaliação Psicológica Hospitalar para Criança Queimada. Avaliação Psicológica, 9 (1), 99-109. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712010000100011&lng=pt&tlng=pt.
Silva, L. A., Vergara, A. P., Avelar, K. E. S., & Cardoso, F. T. (2016). Protocolo de avaliação psicológica em hospitais: humanização do atendimento. Revista Semioses, v. 10, n. 03. Recuperado de: http://apl.unisuam.edu.br/revistas/index.php/Semioses/article/ view/1036.
Rezende, A. R. (2016). Atenção Psicológica a Usuários de Substâncias Psicoativas: Uma proposta de Protocolo para Hospital Geral. 135f. (Dissertação de Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
2. Universalidade, Equidade e Integralidade em Saúde - 2.6 Indicadores, Protocolos e Prontuários
Aline Dias Martins, Magda Souza Ferreira, Julia Paula Oliveira