Projeto Acolher - Instrumentalização de equipes no luto
Josiane Borges Soares
A abordagem aos familiares em situações de luto, por parte da equipe multidisciplinar, dentro da Uti Neonatal, muitas vezes, ocorre de forma abrupta e inesperada. Mas como esses profissionais estão preparados para abordar e acolher uma família enlutada?
Diante dessa questão, ao longo de um estágio em psicologia hospitalar, foi pensado, junto ao serviço de psicologia e com auxílio da coordenação de enfermagem, uma possível instrumentalização em luto para a equipe da Uti Neonatal.
Durante a elaboração do projeto, o foco principal estava centrado em buscar uma forma de intervir, em um curto espaço de tempo, dentro da realidade da Instituição, por conta da dificuldade em afastar os profissionais de sua área de trabalho e do tempo para uma instrumentalização, sendo isso entendido como um sintoma da atualidade, necessitando assim, uma adaptação, por parte do serviço de Psicologia, relacionada às demandas da atualidade, na perspectiva das urgências e emergências que demandam decisões rápidas, de baixo tempo, mas acima de tudo de acolhimento.
Frente a isso, a instrumentalização ocorreu dentro da UTI Neonatal e em tais encontros, foram oportunizados materiais elaborados para instrumentalização da equipe, com temas específicos e com a utilização de vídeos, dinâmicas e uma abordagem dialógica. Esse tipo de trabalho foi pensado e elaborado justamente para criar a possibilidade de atender essa demanda do mundo atual, sendo o trabalho desenvolvido com base na análise da prática psicológica hospitalar e nas vivências que se tornaram experiências para uma instrumentalização baseada na acolhida e no cuidado.
Anelise Fiori da Silva
Devido à elaboração do projeto ter sido pensada para um setor fechado e dinâmico, como a UTI Neonatal, fez-se necessário elaborar um método que se adequasse ao tempo disponível, sem prejudicar o conteúdo abordado. Desta forma, trabalhou-se com a ideia de treinamento in loco, possibilitando que o conhecimento fosse compartilhado dentro do ambiente de UTI, fator que além de aproximar a equipe de sua realidade diária de atuação promove otimização do tempo. O conteúdo foi dividido em cinco encontros, com os seguintes temas: Luto e Pesar; Definição de crise; Cuidando de cuidadores; Comunicação de más notícias; Finalização e avaliação do projeto.
A divisão temática ocorreu de forma pensada para conceituar definições acerca do luto e morte, especialmente relacionadas às vivências do setor. Buscou-se relacionar elementos teóricos com a realidade do dia a dia, trazendo exemplos de casos e proporcionando espaço para reflexões entre a equipe no que tange a seus papéis enquanto cuidadores. Cada encontro teve duração média de vinte minutos, sendo realizado semanalmente. Além da fala e interação com equipe, ao final de cada encontro, foi entregue aos participantes um resumo do conteúdo e conceitos discutidos.
Patricia Silva Camassola
Acolher: receber algo ou alguém, hospedar, agasalhar, aceitar, abrigar. Cuidar: assistir, pensar, meditar, refletir, interessar-se. Cuidador: zeloso, diligente, que toma conta de algo ou alguém. Essas são definições de dicionário, definições sobre belas palavras que coabitam o ambiente hospitalar e merecem um olhar mais profundo. Sabemos que olhar para dentro de si é um processo que possibilita uma transformação, na relação entre o profissional e o paciente, esse movimento é feito com o desenvolvimento de um cuidar, onde os integrantes da equipe de saúde se tornam capazes de colocar a sua humanidade em contato com a humanidade do próximo. Dessa forma podemos conquistar atendimentos de qualidade nos serviços, onde a humanização torna-se o ponto principal. Ao se sentir acolhido, compreendido e olhado, por sua instituição, o profissional passa a ter como base a empatia, a afetividade e a sensibilidade. O maior impacto desse projeto, que possui um nome cheio de significados, foi o ato de refletir, uma vez que assuntos pertinentes e rotineiros foram abordados, fomentando sentimentos e discussões, relacionados ao fazer profissional e também à vida. É no cuidado com o outro que surge a necessidade de cuidar de si, mas para que eu possa cuidar da dor do outro, eu preciso refletir sobre as minhas dores, sobre a morte, sobre o processo de luto e sobre os significados de tais assuntos para mim. Um espaço que é oportunizado ao cuidador, transforma-se em um local de fala, de escuta, de conhecimento teórico, bem como um lugar onde experiências possam ser compartilhadas e o cuidado mútuo exercido.
Débora Nicolao Cavali
A partir da experiência de implantação do serviço de apoio às equipes multiprofissionais, direcionado ao suporte e habilidades comunicativas frente a vivências de luto, foram criados instrumentos avaliativos qualitativos e quantitativos. Objetivou-se mensurar tanto a absorção dos conteúdos e o crescimento dos participantes com relação ao tema, quanto a análise do formato da atividade proposta.
Desta forma, observa-se a necessidade de seguir adaptando a inserção da psicologia nos contextos de trabalho hospitalar e à realidade de cada setor em particular. Não obstante, destaca-se a importância de seguir aprimorando a capacidade de dar conta das demandas emergentes, que surgiram a partir do espaço de compartilhamento. Pontua-se tais aspectos, diante dos conteúdos emocionais evidenciados, relativos às vivências subjetivas em situações de luto. Aliado a isto, elenca-se o grande valor da continuidade de formação e aprimoramento, que refletem na humanização do trabalho - e do cuidado como consequência.
É fundamente trazer também, a percepção da possibilidade de expansão do projeto para demais unidades, ampliando sempre a temática do luto para o cuidado de maneira geral e habilidades comunicativas em situações de crise. Por fim, traz-se a relevância do tema, considerando a ocorrência de momentos de instabilidade, tão presentes no contexto hospitalar e impactantes no profissional que as presencia continuamente.
5. Novas Tecnologias, Gestão e Formação em Psicologia Hospitalar e da Saúde - 5.4 Implantação de Serviços de Psicologia no Hospital Geral
Josiane Borges Soares, Anelise Fiori da Silva, Patricia Silva Camassola, Debora Nicolao Cavali