IMPACTOS NA SUBJETIVIDADE DA PESSOA PORTADORA DE CÂNCER
Introdução: Os impactos provocados pelo câncer na vida de uma pessoa são capazes de gerar grande "choque" emocional. A experiência de adoecer abrange o indivíduo na vastidão de sua subjetividade e é algo que marca profundamente a sua existência. Nota-se que durante o tratamento a pessoa experimenta sentimentos antagônicos, como confiança e desconfiança; coragem e medo. Além disso esta situação implica, em impactos de ordem física, social, emocional, psicológica e espiritual. Objetivos: Investigar os principais fatores de impacto na subjetividade de portadores de câncer e avaliar as principais estratégias de enfrentamento utilizadas por estas pessoas. Metodologia: Trata-se de uma abordagem qualitativa exploratória descritiva, em que participaram dezoito pessoas com o diagnóstico de câncer. Para coleta de dados utilizou-se uma entrevista semiestruturada. Adotou-se o nome de árvores como pseudônimos para preservar o anonimato dos entrevistados. Os dados da pesquisa foram divididos em subcategorias: percepção de mudanças na vida; sentimentos em relação ao tratamento; perdas e ganhos após o diagnóstico; e as estratégias de enfrentamento. Resultado: Observou-se que os principais impactos na subjetividade dos entrevistados foram tanto negativos como positivos. Classificou-se didaticamente os impactos em: físicos/biológicos, sociais, psicológicos, emocionais e espirituais. Os negativos são: perda da autonomia 94,44%; modificação na alimentação 83,33%; mudanças na rotina (trabalho e lazer) 66,67%; preocupação e o tratamento pesou no orçamento 55,56%. Os positivos são: rezar/orar (proximidade da religiosidade) 88,89%; cheios de esperança 83,33%; tornou-se mais reflexivo e sente-se amado e cuidado pela família 77,78%. Constatou-se que o grau de satisfação pela presença da psicóloga junto aos portadores de câncer ao serem entrevistados foi de 100%. Discussão: Tornou-se evidente que o apoio e o acolhimento da família são essenciais para o tratamento. Percebeu-se, também, que os aspectos negativos estão frequentemente presentes nesta e em outras pesquisas, enquanto que as estratégias de enfrentamento (impactos positivos), ou seja, o modo como os portadores de câncer desenvolveram a resiliência, subjugaram o sofrimento avassalador, cresceram na fé e na religiosidade; quando não a tinham e a adquiriram no transcurso da doença, constitui-se tudo isso em verdadeiros ganhos, que representam o grande diferencial desta pesquisa. Todos os profissionais da equipe multidisciplinar cuidam do aspecto orgânico e somente o psicólogo é preparado para cuidar da dimensão psicológica, subjetiva e espiritual. Por isso evidenciou-se que existe imensa demanda pela presença dos psicólogos e o seu trabalho só por ele pode ser realizado, devido a sua peculiar formação que não é alcançada pelos demais profissionais da saúde. Conclusão: Esta pesquisa revela que, se por um lado os impactos negativos suscitam um intenso sofrimento, uma atordoante desesperança, uma mudança profunda nas rotinas, por outro lado, os impactos positivos aglutinaram todos esses aspectos negativos junto a si, para transformá-los em resiliência e transcendê-lo, tornando a doença um caminho de crescimento, de amadurecimento e de transformação. Acrescenta-se a isso a necessidade de viabilizar a presença de psicólogo, através de políticas públicas adequadas para atender as demandas deste público.
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Neide Aparecida Coelho Moreira, Maria Tereza Brandi