11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

CONTEXTO ONCOLÓGICO: COMO A ESPIRITUALIDADE APARECE PARA A EQUIPE DE SAÚDE?

Resumo

O câncer consiste em um processo de adoecimento multifatorial (Hugues, 1987 apud Carvalho, 2002), logo, para que a doença ocorra é necessária uma conjuntura de fatores, que envolvem os componentes genéticos, comportamentos de risco e também elementos emocionais (Trichopoulos, Li, & Hunter, 1996 apud Carvalho, 2010). A partir de meados do século XIX houve no campo da oncologia substanciais avanços em termos de terapêutica, de modo que o câncer, em termos práticos, deixou de ser sinônimo de morte (Veit & Carvalho, 2010). Todavia, apesar dos progressos o contexto oncológico, bem como o câncer, ainda têm a si associados diversos simbolismos negativos, relacionados à morte, ao sofrimento e à solidão (Gobatto & Araujo, 2010), sendo frequentes, no contexto da oncologia, os medos, que passam pela apreensão em relação a mudança de papeis, a desconfiguração física e mesmo o temor a morte. Levando em consideração a espiritualidade e a religiosidade como importantes estratégias de coping, este trabalho objetiva lançar olhar para a relação dos profissionais da saúde do contexto da oncologia com a espiritualidade e ou religiosidade, se essa relação existe e como ela acontece. Para isto, os sujeitos de nossa pesquisa foram profissionais de saúde inseridos no contexto da oncologia. Nossa amostra foi composta por sete profissionais: duas psicólogas, duas enfermeiras, uma fisioterapeuta, uma médica e uma assistente social. As entrevistadas foram selecionadas a partir de duas frentes: foram convidadas duas profissionais que trabalhassem na oncologia e a cada uma delas pediu-se que indicasse um outro profissional inserido neste contexto para que também fosse entrevistado e assim sucessivamente até completar o grupo de sete profissionais. Todos os entrevistados eram mulheres, sendo unânime a referência ao grande número de atividades a serem realizadas pela equipe, implicando qualitativamente no exercício do cuidado – tanto em relação ao paciente, como em relação a própria equipe. Foi identificaram na equipe multidisciplinar a necessidade de ampliar/fortalecer o diálogo e efetivar melhorias quanto a dinâmica do trabalho e mesmo quanto a lida com o contexto, há espaços de cuidado/escuta para os usuários e família, mas ainda não há um local instituído de cuidado ao profissional de saúde. Ainda sobre a equipe de saúde chamou-nos atenção as inúmeras atividades facultadas, o cronograma a ser seguido algumas famílias/pacientes que demandam mais da equipe. A relação dos pacientes/família com a equipe e o hospital revelou o imaginário da atenção em saúde ainda vinculada à caridade e ao assistencialismo, estando o usuário muitas vezes alienado de seus direitos, quadro associado a vulnerabilidade social que envolve a maioria dos pacientes, que tem acesso limitado aos serviços de saúde. Percebemos a dinâmica do contexto de saúde, na qual tivemos que nos inserir para realizar a pesquisa, como elemento limitante a nossa investigação, posto que durante as entrevistas foi comum a ansiedade e a preocupação com o tempo, o que pode ter implicado em algumas perdas qualitativas, apesar deste fenômeno em si já ser um fato para o qual podemos olhar. Entretanto, não avaliamos que esta dinâmica chegou a comprometer substancialmente esta pesquisa.

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Área

3. Intervenções Psicológicas na Rede de Atenção à Saúde - 3.2 Espiritualidade na Saúde

Instituições

Universidade Potiguar - Rio Grande do Norte - Brasil

Autores

Thaymara Pontes Félix