Barreiras ao autocuidado entre homens e mulheres residentes no Rio de Janeiro
A psicologia da saúde busca, dentre outros objetivos, compreender os fatores que atuam como barreiras para adoção de comportamentos de promoção, manutenção e recuperação da saúde. Inúmeros fatores psicossociais podem constituir obstáculos para a prevenção, detecção precoce e tratamento de doenças, tais como falta de informações, crenças inadequadas e respostas emocionais. Ademais, atravessamentos de gênero estão no cerne de déficits comportamentais relativos ao autocuidado. Com o objetivo de investigar percepções de homens e mulheres acerca do que acreditam constituir barreiras pessoais para a busca e utilização de serviços de saúde foi realizada uma pesquisa, com apoio do CNPq, que contou com a participação de 315 pessoas residentes no estado do Rio de Janeiro (capital e municípios circunvizinhos), sendo a maioria delas do sexo feminino (62,7%), com idades variando entre 20 e 77 anos (Média = 40,66). As respostas foram obtidas mediante a aplicação de um questionário, aplicado em formato impresso ou eletrônico, tendo como uma de suas questões a identificação de possíveis barreiras, dentre uma lista prévia, à busca de consultas e exames médicos. Além disso, foram conduzidas entrevistas estruturadas com 15 dos participantes, incluindo uma questão aberta sobre as dificuldades encontradas para os cuidados com a própria saúde, sendo as respostas gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas. Os dados dos questionários foram analisados quantitativamente com uso do SPSS e as verbalizações das entrevistas foram submetidas a Análise de Conteúdo. Quanto a dificuldades para adesão a prescrições e orientações de profissionais de saúde, os participantes indicaram que estas estavam relacionadas, sobretudo, a seguir uma dieta alimentar e em cumprir um plano de exercícios físicos. Verificou-se entre homens maiores dificuldades para ingerir a medicação na dosagem e horário recomendados, abster-se de fumar e comparecer a consultas de retorno. Para as mulheres, constituiu um obstáculo maior a realização de exercícios físicos. Os principais obstáculos identificados para a realização de consultas e exames médicos foram falta de tempo, pouco dinheiro e cansaço ou comodismo. Para os homens, mostraram ser barreiras maiores: falta de interesse, achar que não é necessário, medo de descobrir uma doença grave e ter que enfrentar filas. Para as mulheres, prevaleceram questões práticas como limitações de tempo, de plano de saúde e de dinheiro. Dentre sentimentos assinalados em situação de visita a ginecologistas ou a urologista predominaram vergonha, ansiedade e nervosismo. Os obstáculos para o autocuidado, de modo geral, estiveram ligados principalmente a fatores de ordem prática, como limitações de tempo e de recursos econômicos, bem como a precariedades do sistema de saúde (filas, restrição de horários). Mas houve ainda indicação de barreiras psicossociais, sobretudo para os homens, como falta de interesse, vergonha e medo. O estudo mostrou potencial para contribuir para uma melhor compreensão de barreiras psicossociais a padrões de autocuidado da população adulta e idosa. Estudos dessa natureza podem contribuir para a construção de instrumentos de avaliação a serem utilizados na prática dos serviços de saúde, bem como para a elaboração de planos de intervenção psicoeducativas mais eficientes.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher
Lilian Maria Borges, Marcelo Jacinto de Abreu, Welligton Magno da Silva, Jessica Souza da Silva dos Santos, Iggor Antonio Cavaliere Cordeiro