Tentativa de Autoextermínio na Urgência e Emergência: cuidado ou preconceito?
INTRODUÇÃO: De acordo com Vidal e Gontijo (2013), a maioria dos casos de autoagressão é atendida em algum serviço de saúde, sendo que o primeiro contato poderia ser vivenciado como uma oportunidade para que profissionais de saúde identificassem o potencial nível do risco de tentativas futuras de autoextermínio e atuar frente à prevenção. Contudo, a oportunidade desta atuação nem sempre é vivenciada pela equipe multiprofissional, seja devido ao despreparo e dificuldades em lidar com questões que envolvem o suicídio ou por características próprias dos serviços de emergência. Diante da urgência e da angústia que a tentativa ou a ideação suicida impõe, cuidadores e profissionais de saúde podem ser levados a tentar conduzir o paciente para algo em que realmente acreditam, uma ideologia ou uma fé. No entanto, é importante separar crenças, sentimentos ou desejos pessoais do profissional no momento de atendimento com o paciente (Bertolote; Mello-Santos & Botega, 2010). OBJETIVO:O presente trabalho busca sensibilizar acerca da importância do trabalho prestado por profissionais de saúde no acolhimento e atendimento aos casos de tentativa de autoextermínio (TAE) na urgência e emergência, problematizando sobre as práticas de cuidado e os atravessamentos do preconceito na ausência de capacitação de profissionais de saúde para este. METODOLOGIA: Trabalho realizado a partir da experiência como psicólogas residentes no período de julho e agosto de 2016 no serviço de pronto atendimentoem uma cidade mineira. Este trabalho busca ampliar a discussão sobre as tentativas de auto-extermínio, ressaltando a função dos profissionais de saúde frente ao sujeito que a pratica. RESULTADOS E DISCUSSÃO:Na experiência em questão, foi possível perceber a forma pela qual os profissionais lidam com aTAE e com pacientes quea vivenciam, temática que desloca a equipe de seu lugar, que incomoda. É a partir do incômodo, causado na equipe ao se deparar com estes pacientes e em nós ao nos depararmos com atitudes de hostilidade e rejeição por parte de profissionais de saúde, que foi possível pensar formas de atuação que sensibilizasse a equipe acerca da importância de considerar o atendimento e acolhimento que os profissionais de saúde oferecem ao outro que sofre. Compreender a TAE como sofrimento, possibilita ao profissional desenvolver empatia ao que esse enfrentou ou enfrentará, a partir de seu ato, exclusão social e afetiva, que o fez ou faz querer se excluir da vida. Estas reflexões resultaram em uma capacitação junto à equipe sobre prevenção ao suicídio, ficando evidente a necessidade de realizar intervenções no cotidiano do trabalho, diariamente sensibilizando a equipe de uma atuação integral e humana.CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao perceber a atuação de profissionais de saúde frente aos casos de TAE, os incômodos e atitudes muitas vezes realizados ao se depararem com situações consideradas difíceis de serem vivenciadas, os profissionais da psicologia podem contribuir com a ampliação do olhar e escuta à pessoa em sofrimento psíquico, bem como aos seus familiares. Assim, o trabalho diário e a sensibilização da equipe para uma atuação integral e humana podem ser realizados em todos os âmbitos da Atenção em Saúde.
Bertolote, J. M.; Mello-Santos, C. & Botega, N. J. (2010) Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica. Revista Brasileira de Psiquiatria, 32(2), pp. 587- 95.
Vidal, C. E. L. V. & Gontijo, E. D. (2013). Tentativas de suicídio e o acolhimento nos serviços de urgência: a percepção de quem tenta. Caderno de Saúde Coletiva, 21(2), pp 108-14.
2. Universalidade, Equidade e Integralidade em Saúde - 2.2 Interdisciplinaridade na Formação e Atuação Profissional
Patrícia Barberá Gallego, Layla Raquel Silva Gomes, Samantha Pires Oliveira Freitas Pedrosa