Levantamento e análise de influências de gênero na utilização de serviços de saúde
Indicadores de morbimortalidade evidenciam riscos diferenciados de adoecimento e de morte para homens e mulheres relacionados tanto a aspectos biológicos como a processos socioculturais. Há evidências de que gênero possui um papel importante nos padrões comportamentais de proteção e de risco à saúde. Os homens, em sua maioria, procuram os serviços de atenção primária à saúde com frequência menor do que as mulheres e apresentam mais demandas emergenciais, com procura de pronto-socorro e farmácias para resolver ou atenuar problemas. Apoiada pelo CNPq, a pesquisa objetivou investigar padrões de comportamentos de utilização de serviços de saúde entre pessoas de ambos os sexos. Participaram 117 homens e 198 mulheres residentes, em sua maioria, no município do Rio de Janeiro, com idades variando entre 20 e 77 anos. Um questionário foi preenchido em formato impresso ou online, buscando reunir informações acerca de percepções e comportamentos relacionados aos cuidados com a própria saúde. Uma das seis partes do instrumento investigou o uso dos serviços de saúde, contendo questões relativas a frequência e tipos de consultas e exames realizados e especialistas consultados. Foram realizadas análises estatísticas descritivas mediante uso do software SPSS, com cálculo de frequências e médias. O tipo de atendimento com maior assinalamento foi a realização de consultas em esquema não emergencial, indicada por 83,5% da amostra como presente nos últimos doze meses. Foram afirmados, em frequência menor, atendimentos com odontólogos e psicólogos, bem como a procura por serviços de emergência. Os exames médicos com maior indicação de realização nos seis meses anteriores foram exames de sangue e medição da pressão arterial, com frequência maior entre as mulheres. No que concerne a ação inicial diante de um mal-estar pessoal, as respostas mais frequentes foram a busca de consulta médica para avaliação do quadro clínico e a ida a serviços de emergência. Foi mais comum entre os homens, a indicação da recorrência a unidades básicas de saúde e a farmácias. No levantamento do número de consultas médicas realizadas nos últimos doze meses, observou-se um número de consultas predominante de duas ou três. Entre os homens foi mais frequente a realização de nenhum ou de uma única consulta, ao passo que entre as participantes foi mais comum a realização de quatro consultas em diante. As consultas médicas foram realizadas principalmente para fins de prevenção, conforme afirmação dos participantes, sobretudo das mulheres. Entre os homens, houve maior porcentual daqueles que afirmaram buscar as consultas para tratar doença já diagnosticada. Os principais especialistas médicos consultados foram clínico geral, ginecologista, oftalmologista e cardiologista. Apenas 34,2% dos homens relataram visita a consultório de urologia. Os resultados indicaram, para a maioria dos sujeitos, procura moderada a alta por diferentes tipos de exames e consultas com profissionais de diferentes especialidades. As consultas tiveram finalidades preventivas e não somente de avaliação diagnóstica ou tratamento de doenças. Gênero e idade desempenham um papel importante nos padrões comportamentais e devem ser considerados nas intervenções em saúde.
ABREU, D. M. X. de, CÉSAR, C. C., FRANÇA, E. B. Diferenciais entre homens e mulheres na mortalidade evitável no Brasil (1983-2005). Caderno de Saúde Pública, v.25, n.12, p.2672-2682, 2009.
BORGES, L. M.; SEIDL E. M. F. Efeitos de intervenção psicoeducativa sobre a utilização de serviços de saúde por homens idosos. Interface (Botucatu. Online), v. 17, p. 777-788, 2013.
COUTO, M. T., PINHEIRO, T. T., VALENÇA, O., MACHIN, R., SILVA, G. S. N., GOMES, R., SCHRAIBER, L. B., Figueiredo, W. S. O homem na atenção primária à saúde: discutindo (in)visibilidade a partir da perspectiva de gênero. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v.14, n.33, p.257-270, 2010.
PINHEIRO, R. S. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v.7, n.4, p.687-707, 2002.
REDONDO-SENDINO, A., GUALLAR-CASTILLÓN, P., BANEGAS, J. R., RODRÍGUEZ-ARTALEJO, F. Gender differences in the utilization of health-care services among the older adult population of Spain. BMC Public Health, v.6, n.1, p.155-163, 2006.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ - Rio de Janeiro - Brasil
Lilian Maria Borges, Jessica Souza da Silva dos Santos, Ellen Mariane Silva Santos , Priscila Ribeiro da Costa, Suelen de Aguiar da Silva