O papel do psicólogo da Urgência e Emergência em relação às queixas em um hospital geral: relato de experiência
Introdução: O serviço de Urgência e Emergência do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG-EBSERH) conta com presença e atuação de psicólogos residentes em sua estrutura. No primeiro ano, os residentes realizam um rodízio por diferentes clínicas, a fim de conhecer a instituição e os diversos tipos de adoecimentos, necessidades e perfis de pacientes em cada enfermaria. São cobertos pelo serviço nesse período os seguintes locais: Clínica Médica, Cirúrgica, Tropical, Ortopédica e UTI; sendo que apenas no segundo ano os residentes dirigem-se para atuação específica no contexto do Pronto-Socorro adulto e infantil. Ainda no primeiro ano, os residentes de Psicologia mantém-se responsáveis por chamados para atendimentos formais (via parecer/ficha de interconsulta) ou informais (via telefone ou solicitação verbal), atendendo chamados solicitados por qualquer área do hospital que não tenha psicólogo responsável pela clínica, ou na qual o psicólogo(a) responsável não esteja presente ou disponível.
Objetivo: Levantar e relatar algumas das principais e recorrentes queixas expressas por equipes no momento das solicitações ao longo do período de mar/2016 a mar/2017 da instituição, assim como possibilitar questionamentos e reflexões posteriores sobre a imagem do papel do psicólogo nesse contexto a partir dessas solicitações. Metodologia: análise dos registros de duas psicólogas residentes inseridas no serviço ao longo do último ano e análise de registros em prontuários.
Resultados: a partir dos registros, foram observadas como mais recorrentes as seguintes solicitações: intervenção com pacientes em recusa ou dificuldade de adesão ao tratamento proposto, ou com comportamentos considerados agressivos; auxílio para contenção de choro em pacientes com humor rebaixado; preparação psicológica para procedimentos cirúrgicos; avaliação do cuidado de acompanhantes/familiares de adultos e crianças; convencimento da necessidade de estadia do paciente ou acompanhante no hospital em resposta às queixas de desejo ou ameaça de evasão; apoio psicológico após notícias de diagnósticos ou de óbito, nos diferentes níveis de enfrentamentos psicológicos, de acordo com a descrição de Kubler-Ross¹; avaliação e acompanhamento de pacientes (crianças, adolescentes e adultos) que manifestaram ideação ou realizaram tentativa de suicídio. Para todas essas situações, foi discutido com a equipe sobre condutas ou encaminhamentos e/ou sinalizada a razão para o não atendimento da demanda, em solicitações nas quais os atendimentos não configuravam urgência.
Discussão: Dentre as solicitações apresentadas, observa-se que nem todas configuram-se em perfis de atendimento de urgência/emergência. Alguns perfis de situações eclodidas poderiam não intensificar comportamentos/sentimentos expressos à equipe, caso houvesse acompanhamento prévio de rotina desses pacientes². Seria necessário, para tal, maior número de profissionais inseridos na instituição de maneira geral. Além disso, considera-se a ideia de que o psicólogo poderia conter choro ou manifestações agressivas, assim como convencer paciente e/ou familiar a respeito de determinado assunto. Ressalta-se, assim, a necessidade de não apenas maior inserção do psicólogo no campo hospitalar, mas também a constante atualização e discussão em equipe sobre o que constitui o seu papel e seu escopo de trabalho³. Vale destacar que o Programa de Residência se constitui como um espaço que contribui para a inserção e efetivação do psicólogo no campo hospitalar.
¹ KÜBLER-ROSS, E. Sobre a Morte e o Morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos próprios parentes. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
² COPPE, A. A. F.; MIRANDA, E. M. F. O psicólogo diante da urgência do Pronto-Socorro. In Urgências psicológicas no hospital. ANGERAMI-CAMON (Org.). São Paulo: Thomson, 2002.
³ BARBOSA, L. N. F.; PEREIRA, J. A.; ALVES, V.; RAGOZINI, C. A.; ISMAEL, S. M. C. Reflexões sobre a atuação do psicólogo em unidades de emergência. Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, v. 10, n. 2, p. 73-82, 2007.
2. Universalidade, Equidade e Integralidade em Saúde - 2.2 Interdisciplinaridade na Formação e Atuação Profissional
Thaís Kristine Milhorim, Larissa Rodrigues Moreira