ATENDIMENTO PSICOLÓGICO A CRIANÇAS VÍTIMAS DE TRAUMA EM UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA
O Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS-POA) é a instituição municipal de referência no atendimento a indivíduos que sofreram situações de trauma. Tais situações são geralmente decorrentes de acidentes de trânsito, quedas, agressões, queimaduras e outros. O trauma está ligado a acontecimentos não previstos e indesejáveis que, de forma muitas vezes violenta, atingem indivíduos neles envolvidos, produzindo-lhes lesão ou dano. Uma das definições adotadas se refere ao conjunto das perturbações causadas subitamente por um agente físico, de etiologia, natureza e extensão muito variadas, podendo estar situadas nos diferentes segmentos corpóreos. Se a situação de trauma e hospitalização pode ser um fator gerador de ansiedade para qualquer pessoa, muito mais o é para uma criança. Diversos são os sentimentos negativos e comportamentos desadaptativos que a hospitalização pode nelas desencadear, mesmo porque, em uma vivência traumática, se encontram em uma condição de maior fragilidade. Na maioria das vezes essas crianças passam por um processo de despersonalização, das quais são obrigadas a cumprirem a rotina hospitalar, que as padroniza, vestindo-as iguais, estipulando rigorosos horários de visitas, banho, alimentação, troca de curativos, limitações de movimento dependendo da lesão física, etc. Esses momentos geram desconforto, dor, vergonha, medo, choro, o que pode desenvolver uma insegurança em relação à família, ao tratamento e à equipe hospitalar. Este estudo tem como objetivo descrever e refletir sobre a intervenção do psicólogo hospitalar com crianças vítimas de trauma no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. A metodologia utilizada é constituída pelo relato de experiência da atuação dos profissionais psicólogos desse hospital. Nos atendimentos foi possível identificar em muitas crianças sentimentos de medo seja do desconhecido, gerado por passar a habitar um lugar totalmente novo, seja da dor, por precisarem fazer diversos curativos e medicações. Algumas interpretam a hospitalização por trauma como castigo, sentindo-se culpadas, gerando sintomas ansiosos e depressivos. Nos casos em que os cuidadores se mostraram afetivos e continentes, houve uma melhor adaptação da criança ao ambiente hospitalar e enfrentamento da situação de trauma. O psicólogo hospitalar se faz presente no manejo dos sentimentos e comportamentos apresentados por essas crianças e também na intervenção de maneira lúdica de forma a tornar o ambiente mais acolhedor e propício para elaboração do trauma vivenciado. Os pais também precisam de suporte emocional no intuito de que possam compreender o comportamento apresentado por seus filhos na situação de hospitalização; muitos também ficam assustados e temerosos quanto ao prognóstico e tratamento. Conclui-se a importância do apoio psicológico nas situações de hospitalização traumática por proporcionar uma experiência terapêutica que busca minimizar o impacto e os efeitos negativos desse acontecimento.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.1 Atenção Integral à Criança e ao Adolescente no Contexto de Saúde e Doença
Priscila Schonarth, Ana Caroline Roehrs Santana, Graziele Testa Dulius, Jéssica Sartori Ribeiro, Sônia Mara Arena de Souza