A experiência na realização de um grupo de suporte com adolescentes com câncer
Adolescer significa crescer. É o período que acontece um rápido desenvolvimento, com intensas mudanças físicas, cognitivas, sociais e emocionais. Este período de transição é marcado por inquietações, interrogações, desejos e medos. Para o adolescente com câncer, a doença representa a quebra do processo natural desta fase, onde há busca de si mesmo, desenvolvimento da autoestima, autonomia e processos de identificação. A percepção da gravidade da doença leva-o a buscar posições defensivas, podendo gerar uma conduta regressiva. Estes aspectos podem dificultar o processo de adolescer, interferindo no amadurecimento emocional e inserção social. Diante disto, percebe-se a importância de propiciar-se um espaço de acolhimento e escuta para que lidarem com este contexto de forma mais saudável e menos sofrida. Neste sentido, a terapia de grupo tem mostrado-se a melhor forma de abordagem terapêutica com adolescentes por adequar-se à necessidade de pertencer a um grupo de iguais. E pensando nesta realidade que propõe-se a realização de grupos de suporte homogêneo como alternativa no cuidado destes pacientes. Sendo o grupo homogêneo a reunião de um grupo de pessoas em torno de uma situação em comum, o diagnóstico de câncer, e o grupo de suporte como o grupo que objetiva o compartilhamento de experiências, informação, reflexão e cuidado – são considerados grupos de reabastecimento ou fortalecimento. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência do Serviço de Psicologia do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) no desenvolvimento de um grupo homogêneo de suporte a adolescentes diagnosticados com câncer. O grupo de suporte com adolescentes foi realizado na unidade de internação do HCSA, com frequência semanal, com adolescentes de 12 a 18 anos e com a coordenação da psicologia. Foram realizados grupos com diferentes abordagens, como: com a presença de diferentes profissionais, festas em datas comemorativas e pós óbito. Nos grupos com a presença de outros profissionais pode-se contar com a participação de médico, nutricionista e enfermeira. Nestes momentos foram abordados aspectos relevantes do tratamento, como alimentação, cuidados com o cateter, restrições impostas pelo tratamento, fantasias sobre o motivo do adoecimento, dúvidas sobre o tratamento e funcionamento do hospital, uso de álcool, idas a festas e namoro. As festas em datas comemorativas contaram com a comemoração de aniversários, festa junina e apresentação do dia das mães. Nesta última, os adolescentes escolheram duas músicas para cantarem para as mães, além de confeccionarem os instrumentos utilizados. Os grupos de pós óbito ocorreram após a morte de algum paciente do grupo, criando-se um espaço de troca e de acolhimento, onde os jovens podiam falar sobre os seus medos e expectativas, além de fazerem rituais de despedidas. Através do grupo foi possível perceber maior apropriação do paciente em relação ao tratamento, a criação de uma identidade de grupo - algo extremamente importante nesta etapa do desenvolvimento, e o surgimento e fortalecimento de vínculos afetivos e rede de apoio. Desta forma, consideramos que a realização do grupo foi de extrema importância para a qualidade da assistência e para todos que, de alguma forma, participaram destes momentos.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.1 Atenção Integral à Criança e ao Adolescente no Contexto de Saúde e Doença
Hospital da Criança Santo Antônio - Rio Grande do Sul - Brasil
Francine Rossignolo Londero, Daniele Mariante Giesta, Marina Heinen, Juliana Niederauer Weide, Dayane Santos Martins